sexta-feira, 8 de junho de 2012

Star Wars - jubileu de coral (parte III)

SÉRIE: AS GRANDES SAGAS

por Fargon Jinn

Quando Star Wars foi idealizado, tinha-se em mente algo puramente recreativo. George Lucas pensava mais em termos televisivos do que propriamente cinematográficos. Sua intenção era exibir algo que fizesse as pessoas rirem e vibrarem com histórias infantis, sem cunhos mais sérios, mas dentro das salas de cinema. Este era um ambiente familiar para ele, e era para aquele público que ele escrevia um argumento gigantesco.

Abertura de Buck Rogers - inspiração e homenagem
Dentro da perspectiva de se recriar seriados para o cinema, suas propostas de roteiros eram relativamente curtas e só faziam sentido dentro de um contexto de dez a vinte episódios de longametragens de setenta a oitenta minutos.

O germinar de um novo universo

As idéias eram mirabolantes demais para a época
Mas quanto mais Lucas falava sobre suas ideias a produtores e cineastas, mais desacreditado ficava. Ninguém parecia entender suas intenções e seu sentimentalismo anacrônico. Isto, por fim, começou a influenciar o próprio autor que, apaixonado por seu épico, resolve tentar adaptá-lo às exigências de produção da época.

Assim Star Wars começa a ser delineado como uma trilogia. O argumento de vinte episódios que descreveria os possíveis pais da personagem central, Darth Vader, até o legado deixado para seus netos, foi centralizado em sua vida. Ficando com nove episódios.

Durante um longo período George Lucas afinou esta proposta, contou com a ajuda de muitos amigos do período de faculdade e Joseph Campbell, mitologista que lhe ajudou a encontrar a verdadeira alma de seus personagens.

O universo desponta

Mas roteiro mesmo até então não existia. Eram páginas e páginas de anotações com ideias para as personagens e suas jornadas heroicas. O primeiro roteiro afinal veio após uma conversa com Alan Ladd Jr, diretor da Fox, durante uma viagem em que eles se encontram e Lucas fala de suas ideias. Já com algumas recusas acumuladas foi surpreendido pelo entusiasmo de Alan, que aparentemente havia entendido seus conceitos.

George rapidamente apresentou um roteiro empolgante e ousado, que exigiria um grande investimento financeiro. A Fox interessou-se mas exigiu inúmeras modificações e redução de custo.

Cena inspirada em Dersu Uzala (1975) de Akira Kurosawa
Inicialmente deveríamos ter num formato de seriado de cinema. Um episódio que mostraria a vida de um jovem fazendeiro ansioso por aventuras. Este acaba juntando-se à resistência contra o Império que subjugou seu planeta, outrora independente. E obtém, ao final, uma importante vitória contra os opressores.

Em toda a sua trajetória um mentor o guiaria. Toda uma filosofia teria que ser aprendida e esta lhe daria o poder necessário para superar suas deficiências e sobrepujar o inimigo. Por fim descobriria que seu pai era um importante general do Império, e que este também era seguidor dos mesmos ensinamentos, mas com uma visão corrompida.

E... floresce!

Nas histórias posteriores, se viessem a existir, deveriam mostrar a redenção de seu pai e a destruição do Império.

Neste trajeto o mentor iria acompanhar o jovem herói em sua jornada até o momento de seu sucesso final, com a queda do Império. Alguns amigos de batalhas seriam perdidos, entre eles aquele que se tornou Hans Solo. A princesa Leia não existiria como sua irmã, mas como a donzela a ser salva do pai maligno. Os robôs foram incluídos para suavizar a narrativa e atrair o público infantil, inspirados no filme Corrida Silenciosa (1972), e sua participação reprisaria a dos narradores do filme The Hidden Fortress (1958), de Akira Kurosawa, de quem Lucas, como grande admirador, ainda emprestaria mais, pelo menos, uma dúzia de elementos.

Plageia...

The Hidden Fortress - inspiração para o episódio V
Isto não minimiza o valor de Star Wars, visto que o próprio Akira produzia seus filmes a partir de obras de autores estadunidenses. O mundo do cinema é um tremendo rouba-copia que nunca acaba. Yojimbo (Akira Kurosawa - 1961) foi a versão do japonês para o livro de Dashiell Hammett (Colheita Vermelha – 1928), cujo personagem é um detetive sem nome. Sergio Leone, diretor italiano de filmes faroestes, colocou em seu filme, “Por Um Punhado de Dólares” (1964), Clint Eastwood no papel do “Homem Sem Nome” (chamado Joe), baseando-se em Yojimbo. Já o filme “Sete Homens e Um Destino” (1960) de John Sturges, é a versão americana de “Os Sete Samurais” (1954) de Kurosawa. Clint Eastwood foi a inspiração para Boba Fett, em Império Contra-Ataca, na versão espacial do “Homem Sem Nome”. “Vida de Inseto” (Pixar – 1998) é uma versão animada de “Os Sete Samurais”.

Para falarmos da coleção de influências, inspirações e plágios utilizados em Star Wars, precisamos de outro artigo. Ou outros artigos, já que as ramificações vão longe.

Frutifica e amadurece

Ben Yoda ou Yoda Kenobi? Até Lucas os confunde...
Mas voltando ao tema, Yoda é forçado a surgir posteriormente para sanar a falta de Obi-Wan, que Lucas, num arrojo de dramaticidade, resolve matar prematuramente.

A Estrela da Morte, baseada no planeta Mongo, de Ming o Impiedoso, imperador maligno e arquiinimigo de Flash Gordon, só deveria surgir no terceiro filme. Que iria se chamar A Vingança do Jedi, e não O Retorno... Como poderia não haver terceiro filme, Lucas usou a ideia no episódio IV, e teve que criar uma estação de terror maior do que a primeira, para o episódio VI.
Príncipe Thun dos Homens-Leões é base para Chewbacca

Hans Solo e sua Millennium Falcon, bem como Chewbacca (inspirado no Príncipe Thun, o homem-leão de Flash Gordon) acabaram sobrevivendo em resposta à extrema popularidade que alcançaram. Quase que Boba Fett também escapa da morte, na segunda versão de O Retorno do Jedi, por causa da alta popularidade do bountyhunter, e da morte hilária que sofre. Felizmente George Lucas não cometeu esse sacrilégio.

E assim são trinta e cinco anos

Amigos exploradores, os assuntos de Star Wars não se esgotam aqui. Como uma de nossas queridas grandes sagas, estamos sempre revisitando o tema, e ideias não faltam. Se quiserem sugerir sintam-se à vontade. Teremos prazer em atender. Até breve.

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