quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Enterprise (parte I) - As séries modernas de Jornada (parte IV)

por Fabok

Com o final de Voyager no horizonte, Rick Berman anunciou mais um spin off da Franquia. Desta vez teríamos um prequel situado cerca de 100 anos antes da Série Original. Os fãs logo ficaram desconfiados. Prequel 100 anos antes? Ainda por cima numa nave chamada Enterprise e com uma primeira oficial vulcana? Tudo ia de encontro com o que fora estabelecido pelo canon. Afinal a NCC 1701 era considerada a primeira Enterprise da Frota Estelar e Spock o primeiro vulcano a servir na instituição.

Scott Bakula como Capitão Archer
Com os índices de audiência do canal UPN cada vez mais baixos, a Paramount resolveu arriscar, já que na época passávamos pelo boom dos prelúdios, iniciado por Star Wars em 1999. Tentando evitar o mesmo erro que acontecera com Voyager, desta vez os produtores procuraram um elenco mais talentoso e com um ator de renome para o papel principal. Quando o nome de Scott Bakula foi anunciado, os fãs adoraram, dissipando um pouco da má reação inicial à proposta para a série, pois ele fora protagonista de Quantum Leap, uma série de ficção científica muito popular que durou seis temporadas nos final dos anos 80 e começo dos 90.

Cena de Broken Bow (piloto 2001)
Finalmente em setembro de 2001, Enterprise estréia na TV americana com o episódio Broken Bow, narrando as aventuras da Enterprise sob o comando do Capitão Archer. A nave, a primeira da ainda jovem Frota Estelar a atingir dobra cinco, vê-se envolvida num misterioso conflito chamado de Guerra Fria Temporal, ao levar de volta ao mundo natal klingon, um guerreiro capturado na Terra.

Primeira nave batizada de Enterprise
A verdade é que prequels são complicadas. Os roteiristas ficam com as mãos atadas, pois em tese não devem escrever algo que vai de encontro ao que foi estabelecido previamente. Além disso, a equipe de produção tem que ficar atenta, no caso de uma série ou filme sci-fi, para que as tecnologias mostradas não pareçam mais modernas que as vistas na obra original. Rick Berman e equipe sempre se gabaram de pouco terem assistido à Série Original, e daí vem grande parte da antipatia dos fãs com Enterprise. Em Broken Bow, grande parte do canon original é jogado no lixo mostrando klingons na Terra, uma vulcana servindo numa nave da Frota e a própria NX-01, que parece ser mais moderna que a Enterprise de Kirk. Alguns esforços foram feitos para a série parecer low tech como a limitação de velocidade, a ausência de escudos, o armamento inferior e o teletransporte mais primitivo da nave, mas isto foi, aos poucos, deixado de lado com o passar das temporadas.

Trip e T'Pol na descontaminação
Apesar destes problemas, o piloto teve uma boa recepção com algumas ressalvas, como a música tema, a primeira, na Franquia, interpretada por um cantor; a infame cena de descontaminação protagonizada pelo engenheiro Trip e T'Pol, onde os dois, em roupas sumárias, ficam esfregando uma pomadinha sem vergonha, enquanto a câmera dá closes bem generosos no corpo de T'Pol.

Com o começo da temporada logo ficou claro que os roteiristas não tinham a mínima idéia do que seria a tal Guerra Fria Temporal, pois a cada episódio a audiência menos entendia o que estava acontecendo. Lembra quando falei sobre roteiristas de mãos atadas? Parecia que eles não sabiam também como escrever para Enterprise, pois a quantidade de episódios sem relevância era enorme. A primeira temporada acabou e os fãs se perguntavam a razão da série existir, pois não houve nenhum episódio que tratasse dos primórdios de um universo tão rico quanto o de Jornada.

Para piorar na segunda temporada, os roteiristas começaram a trazer elementos da Nova Geração, como ferengis e até mesmos borgs. Só pra lembrar, o holodeck deu o ar da graça logo no começo da primeira temporada e pior, ainda acaba nas mãos dos klingons. Além disso, o canon, mais de uma vez, é desrespeitado: aparecimento de vulcanos na Terra nos anos 50; 'Aves de Guerra' romulanas camufladas; e, Archer se tornando o primeiro humano a escapar da prisão klingon de Rura Pente.

Tripulação da Enterprise
Apesar disso, tenho que confessar que gosto desta temporada. Se você assistir Enterprise sem levar em conta as agressões ao canon, a série é bem interessante. Não querendo fazer defesa a tais atentados, para mim, caro explorador, Enterprise se encontra numa realidade alternativa. Os eventos vistos em "Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato" seriam os catalizadores desta nova linha temporal. O visual, a tecnologia, história e roteiro, tudo se justifica sob esta ótica; menos, é claro, os vulcanos ranzinzas, algo que realmente sempre detestei. Outro ponto positivo são os personagens. Todos são interessantes, você se importa e se identifica com eles. Além de Bakula, John Billingsley (Dr. Phlox), Jolene Blalock (T'Pol) e Connor Trinneer (Trip) vão ganhando cada vez mais destaque e acabam por formar o quarteto central da série. Já Dominic Keating (Malcom Reed) e Linda Park (Hoshi Sato) apesar de participações menores sempre defenderam seus personagens com competência. A nota destoante aqui vai para Anthony Montgomery que não conseguiu tornar Mayweather um personagem interessante.

Algumas das espécies xindi
Infelizmente, a maioria da audiência não vinha aceitando bem a série. Ao final da temporada, temos um reboot, quando após um covarde ataque à Terra pelos desconhecidos xindi, a Enterprise é chamada de volta à doca espacial e é transformada numa nave de guerra, inclusive recebendo uma tropa de soldados de elite chamados MACOS. Numa metáfora aos atentados de 11 de setembro, a Enteprise parte sozinha para uma estranha região da galáxia chamada de A Expansão, onde deverá impedir que o nosso planeta seja inteiramente destruído pelos xindi.

Na próxima semana falaremos como Enterprise em seus dois últimos anos se torna a melhor das séries modernas de Jornada e porque a maioria dos fãs discorda disso. Até lá...

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