sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Laranja Mecânica – O Livro

por Helder Maia

Ao se falar em Laranja Mecânica o que vêm geralmente à mente das pessoas é o filme, mas talvez nem todos saibam que ele se baseia em uma importante obra literária.

Edição de 1962
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, no original) foi escrito em 1962 pelo autor britânico Anthony Burgess. O livro apresenta uma distopia, um futuro onde as cidades são tomadas pela violência de gangues juvenis.

O título do livro vem da gíria inglesa “as queer as a clockwork orange” (tão estranho quanto uma laranja mecânica), que implica em algo de muito estranho. A expressão também tem cunho sexual, já que queer significa tanto estranho como homossexual.

Malcolm McDowell
A leitura de Laranja Mecânica produz uma sensação de estranheza, pois ao ser narrado por Alex em primeira pessoa, o texto apresenta várias palavras desconhecidas, pertencentes à gíria das gangues, o nadsat, linguajar criado pelo autor, com o uso de fontes diversas. Para ter uma idéia vejam este trecho inicial: “... Éramos eu, ou seja, Alex, e meus três druguis, ou seja, Pete, Georgie e Tosko, Tosko porque ele era muito tosco, e estávamos no Lactobar Korova botando nossas rassudoks pra funcionar e ver o que fazer naquela noite...”. O uso desta gíria, inventada pelo autor, é proposital no sentido de levar o leitor a se sentir transportado para um futuro estranho. Outros elementos introduzidos para criar esse bizarro futuro são as roupas bizarras usadas por Alex e seus amigos, assim como a decadência física geral da cidade onde se passa a história.


Alex e os membros de sua gangue freqüentam uma espécie de bar onde, apesar da proibição de vender bebidas alcoólicas, se vende leite acrescido de todo tipo de drogas. Nele, eles costumam bebericar uma mistura que estimula o desejo sexual enquanto pensam no que fazer, que tipo de atos ultraviolentos irão cometer como pura diversão, seja roubando, espancando ou estuprando.

Eles são ainda adolescentes, em época escolar, e nutrem desejos de cometer atos violentos e não apresentam nenhum tipo de remorso perante os mesmos. Os pais de Alex são trabalhadores que fingem ignorar as atividades do filho e que vivem sob o terror de serem agredidos, pelo mesmo, caso o contradigam.

Alex é o mais inteligente e o líder da gangue, sendo grande apreciador de música clássica, como também é capaz de se expressar muito bem verbalmente. Tosko é o menos inteligente dos quatro, embora um lutador feroz sempre com um sorriso bobo.

Anthony Burgess (1917-1993)
Este livro de autoria de F. Alexander (outro personagem chamado Alex, como o personagem/narrador do livro) proclama que o homem moderno, fruto de um meio natural criado por Deus (assemelhando-se a uma laranja) está sendo transformado em algo mecânico pela sociedade moderna.

Daí a relação do titulo com a história do livro, pois Alex, após participar de um crime que acaba em morte da vítima, vai para a prisão e lá se vê submetido a todo tipo de violência. Ao ouvir falar sobre um novo programa que pode lhe reduzir o tempo de encarceramento ele faz de tudo para participar. O que ele não sabe é que se trata de um programa governamental de condicionamento com o objetivo de evitar que o preso cometa novos crimes ao condicioná-lo a sentir um profundo mal-estar físico toda vez que pensar em atos violentos. O padre da prisão, que faz sermões agressivos aos presos prometendo o inferno para aqueles que não se regenerarem, vê nesta técnica de controle comportamental uma aberração, pois “quando o homem deixa de ter livre arbítrio ele deixa de ser homem”.

Cena de Laranja Mecânica (1971)
O livro possui um título inusitado, mas coerente, um começo intrigante e personagens bem desenvolvidos em uma trama que nos faz refletir sobre a violência atual dos jovens e sobre os perigos do totalitarismo e do controle do indivíduo pela sociedade.

Laranja Mecânica foi levado às telas de cinema em 1971 pelo diretor Stanley Kubrick, tendo Malcolm McDowell como Alex. O livro inclusive tem um final diferente do filme, continuando a história onde este pára (quando foi lançado nos EUA o livro teve seu final ,mais otimista, tolhido). Outra curiosidade é que no livro os personagens devem ter uns treze anos de idade, o que tornaria seus atos ainda mais chocantes, mas no filme eles são mais adultos.

Capa da edição brasileira
Apesar de o filme ser muito bom, o livro é bem melhor, caracterizando melhor a alienação de uma sociedade onde as pessoas ficam trancadas em suas casas assistindo a imensas telas de TV.

Juntamente com 1984, Farenheit 451, A Revolução dos Bichos e Admirável Mundo Novo, Laranja Mecânica se encontra entre as grandes obras distópicas que nos alertam para estes possíveis pesadelos futuros.

No Brasil, a editora Aleph lançou uma edição caprichada de Laranja Mecânica, a qual recomendo a todos.

Nossa avaliação: 
Delta-Shield Ouro

Nenhum comentário:

Postar um comentário