segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Star Wars

por Fagon Jinn
8º da série FC vs Ciência

C-57D - O Planeta Proibido (1956)
Até 1968 não existia uma definição propriamente. Se víamos Flash Gordon em seu foguete no espaço, ele tinha algum tipo de efeito sonoro. A C-57D de Forbidden Planet (1956) nos dava o som de meia dúzia de violinos, flautas e um sintetizador destemperado. Era quase uma música, tinha mesmo um toque melodioso. Mas o fato é que isso eram apenas sons incidentais para preencher o momento e dar um toque de sofisticação futurística.

Stanley Kubrick mudou isso tudo. Um foguete, um transporte lunar, ou uma estação espacial não produziam sons de forma alguma. A cena era preenchida por sinfonias e valsas românticas. Ele optou por adotar uma abordagem científica e não fantasiosa.

Tubarão (1975) - blockbuster
Mas isso teve um preço. O gênero ficção científica perdeu força. Foi taxado de tedioso e elitista. Os custos de produção de 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) também ajudaram a enterrar a FC sob uma tonelada de investidores zelosos de seus patrimônios e mais propensos a investir em comédias e os recém inventados blockbusters.

Keir Dullea como Dave Bowman
Kubrick tinha criado uma obra de arte a ser descoberta. O filme quase levou a MGM à banca rota. E por pouco não foi cancelado durante a pós-produção. Aos poucos 2001 tornou-se um cult. Isso significa que o grande público não conseguiu digerir os quarenta e tantos minutos ouvindo o som da respiração de Keir Dullea (astronauta Dave Bowman).

E então o mundo nos deu...: George Lucas.

Cena de combate espacial - Star Wars
Em ‘77 Star Wars estreia nos cinemas nos trazendo emocionantes cenas de combates espaciais. Cruzadores estelares, transporte de tropas, cargueiros e caças de combate cruzavam as telas com os ruídos de seus motores fazendo as cadeiras vibrarem, nos cinemas com melhor qualidade sonora. Os tiros disparados por canhões lasers tinham cor, luz e som. Os seus alvos explodiam e lançavam ruídos, destroços e chamas em todas as direções enquanto eram atravessados pelos pilotos, ases indomáveis, que surgiam do outro lado do fogo, gritando e acenando para o seu colega no caça ao lado.

Salve George Lucas.

Dogfight á là top gun
Claro que tudo o que estamos vendo não seria realizável nem dentro da atmosfera de qualquer planeta. Estas lutas, ao estilo Top Gun (1986), não existe nem mesmo em combates aéreos... Quanto mais num ‘pega’ espacial.

Num combate aéreo real, o piloto que persegue a cauda de um inimigo tem muito cuidado ao disparar, já que qualquer destroço do avião à frente pode causar a queda do seu. Um piloto de combate dispara e sai imediatamente da traseira do outro. Atravessar chamas de um avião destruído... nem pensar nego.

O senso de realidade é suplantado
Mas o nosso amigo, Mr. Lucas, nos fez acreditar que isso era possível. Sobrecarregando nossos órgãos sensoriais com tanta luz e som, tanta ação ocorrendo, tanta adrenalina envolvida que não nos damos ao luxo de tentar imaginar se algo do que estamos vendo é realizável. Isso de certa forma foi uma bênção. A diversão estava de volta e a ficção científica voltou a ter lugar nas produções de grandes investimentos.

Dá-lhe MithBusters
Isso, contudo, para o grande público, foi uma escola de física podre. A morte da mecânica newtoniana. A mutilação da relatividade de Eistein. A geração de um filho bastardo para a física quântica. Então tem muita gente boa, por aí, que acredita que, no espaço, uma nave pode navegar tão fácil e ágil quanto um avião de acrobacias aéreas. Que, se você quiser dar uma acelerada e um cavalo de pau em pleno cinturão de asteróides, poderá quebrar mais um recorde de travessia Terra-Marte.

Modelo de transferência orbital
De fato, naves espaciais navegam dentro de regras muito pouco flexíveis. Em verdade, qualquer foguete ou sonda espacial age e se desloca como se fosse um asteróide que pudesse acelerar ou frear. Estes aparelhos percorrem órbitas em torno de outros corpos cósmicos. Pode ser um satélite, um planeta ou o próprio Sol. Suas mudanças de velocidades bem calculadas possibilita que saltem de uma órbita para outra. Um foguete que sai da Terra em direção à Lua, está percorrendo órbitas elípticas em torno do nosso planeta, ou da Lua. Ou seja, um combate espacial seria algo muito chato. Você atira enquanto sua órbita está cruzando ou tangenciando a órbita da nave inimiga. A próxima salva de tiro só ocorrerá na medida que outra aproximação de órbitas ocorrer.

Outra possibilidade seria a constante alteração de órbitas, o que, para tal, seria necessário um enorme tanque de combustível. Imaginem que essa tanajura espacial, repleta de ‘nitroglicerina’, seria um belo alvo para qualquer atacante.

Para piorar: tudo, cada tiro, cada nave passante, alvos atingidos e explosões, seria de um silêncio sepulcral. Vejam a cena: um ônibus espacial silenciosamente passa, enquanto suas portas do vão central se abrem, sem fazer um ruído. Armas aparecem suavemente, sem barulhos. Mísseis disparam em direção ao inimigo, nenhum som. Luzes aparecem a uma distância absurda, você sequer imaginou que haveria outra nave naquele local. Isso indica que o alvo foi atingido. Não há chamas ou bolas de fogo. Tudo foi um flash muito breve e insignificante. Após algumas horas deveremos ver algum destroço flutuando. Essa é a descrição do que seria um combate em pleno espaço.

Lembrem-se: sem atmosfera, o som não se propaga e as chamas não existem sem o oxigênio.

Santificado seja o Vosso Nome
Hosana nas alturas São George Lucas. Dane-se a física e viva a diversão.

Outro ponto a ser mencionado é que naves espaciais viajam a velocidades de vinte a trinta mil quilômetros por hora nas proximidades do nosso mundo. Se alguma nave pudesse fazer qualquer tipo de pirueta a essa velocidade, e continuar inteira, teríamos que remover o piloto das paredes de sua cabine com uma espátula. A inércia, a estas velocidades, simplesmente esmagaria o pobre diabo.

No próximo artigo falaremos sobre o tradutor universal e suas ramificações...

4 comentários:

  1. Lembrando que os Starfury de Babylon 5 foram os primeiros caças espaciais a levar a física Newtoniana em consideração, assim como os Vipers da nova versão de Galáctica. Mas quem pisou na bola feio foi o Capitão Picard quando jogou a Enterprise contra a gigantesca nave Remana de Star Trek Nemesis. Como que aquelas naves se engataram daquele modo?
    Excelente Artigo

    ResponderExcluir
  2. Verdade Fabok, estas duas séries tentaram se aproximar mais da física. Ainda assim temos várias ressalvas.
    Obrigado pelo elogio e pelo comentário.
    Fargon

    ResponderExcluir
  3. Muito bom mesmo esse artigo, Fontes, falando de combates aéreos, eu gostava muito do eterno "Space Above and Beyond", lembra? Ass.: Rodrigo Alpoim

    ResponderExcluir
  4. É Rodrigo, SAAB era uma obra prima, senti muito o seu cancelamento.
    Fargon Jinn

    ResponderExcluir