sexta-feira, 6 de abril de 2012

Imaginação, realidade ou loucura?

SÉRIE: CRÔNICAS INSTIGANTES


por Fargon Jinn

Muitas histórias de um passado recente nos trazem, cada uma, a sua versão do “cientista louco”. O que é isso? Por que este tipo de narrativa sugere que visionários e realizadores devem ser tidos como psicopatas?

Acredito que, a partir dos anos 50, quando começou a guerra fria, e o risco do holocausto nuclear se tornou uma constante no dia-a-dia das grandes nações, as pessoas começaram a buscar culpados pelos seus medos constantes. Aquilo era um produto da ciência. À frente da ciência temos os pesquisadores, os gênios, os visionários e os idealistas. Obviamente estes se tornam os culpados. Eles abrem a 'Caixa de Pandora' e libertam terrores que não podem ser guardados novamente.

Albert Einstein
Oppenheimer, Einstein, Feynman, são nomes que remetem à loucura dos primórdios da era atômica. Nomes como estes nos lembram de Hiroshima, mísseis nucleares, atol de Bikini, e o tão famigerado ‘Projeto Manhattan.

Isto bastou para que no imaginário popular criássemos os novos monstros de nossa era: os cientistas. Eles estão sempre prontos a raptar pessoas para suas experiências genéticas macabras; liberar doenças que nos levariam ao juízo final, apenas para vingar a morte trágica de sua amada esposa; expurgar o mal da espécie humana, transformando-nos a todos em autômatos, com chips implantados ou computadores que regem nossas vidas; tornarem-se os agentes do apocalipse, exterminando a civilização humana para que o planeta fosse repopulado por humanos perfeitos, sem doenças, sem falhas genéticas ou os males do espírito; ou simplesmente destruírem o mundo e o universo por alguma sede insaciável de conhecimento.

Cientista louco em Star Trek: TOS
Roteiristas, diretores de cinema e escritores de pulp fiction, abusaram desta temática. E o público, hoje em dia, tem uma grande facilidade em apontar o dedo acusador para os homens e mulheres de ciência, e taxá-los de irresponsáveis e ambiciosos inescrupulosos. Em alguns casos, isso até que não fica longe da verdade.

Na grande maioria, os impulsionadores da ciência são os governos, os investidores e as indústrias. Os cientistas, de fato, são pessoas do povo. Saem do nosso meio, e são, portanto, formados por nós. Além disso, sabemos que a ciência é absurdamente cara, e o cientista de garagem não é uma realidade. A ciência necessita de equipamentos de precisão absoluta, instrumentos delicadíssimos, computadores e sistemas de análise de modelos, desenvolvidos ao custo de milhões. São dezenas de técnicos, especialistas e milhões de horas de formação, treinamento, estudo e desenvolvimento. Um Professor Pardal ou um Doutor Brown (De Volta ao Futuro, 1985) é uma grande improbabilidade. Mesmo Graham Bell, Nikola Tesla e Thomas Edson precisaram de grandes investimentos, muitos técnicos, bons laboratórios e acesso ilimitado a todo o conhecimento de suas épocas.

Robert A. Heinlein
Por outro lado, temos um aspecto interessante. Cientistas trabalham muito dentro das questões levantadas pela literatura de ficção. Desde a infância somos contaminados por livros, quadrinhos e filmes que exploram a ciência através da imaginação (a ficção científica) e estes, em geral, trazem à tona grandes discussões sobre ética e moral. São estes grandes profetas da ciência e do futuro que inferem sobre tudo o que a ciência produz, combinam esta miríade de noções numa nova, possível, tecnologia e exploram-nas com sugestões, e alertas para que os atuais e os futuros agentes da tecnologia possam levantar questionamentos, ‘do que’ e ‘do se’ podemos ou devemos fazer com o conhecimento que adquirimos.

Philip K. Dick
Autores como Arthur C. Clarke, Aldous Huxley, Isaac Asimov, Robert A. Heinlein, Phillip K. Dick, Ray Bradbury, Carl Sagan, Jules Verne, Michael Crichton, Jorge Luiz Calife entre muitos outros, nos abriram janelas para o futuro e mostraram sociedades, tecnologias, perigos e possibilidades que só verdadeiros loucos poderiam antecipar.



Jorge Luiz Calife
Hoje em dia vivemos numa sociedade em que grande parte do que temos e somos foi antevisto por um grande autor de ficção científica. Alguns podem, na verdade, ter nos salvo de um possível perigo que, de outra maneira, jamais teria sido previsto.

Muita gente não sabe, mas os livros, o cinema, a música e a poesia, moldam o mundo que em que estamos, formam o nosso caráter, questionam os nossos valores e nosso modo de vida. São autores como esses que ajudaram a produziram o nosso presente. E são outros assim que formarão o nosso amanhã. A ficção científica tem esse poder, como oráculos estas obras nos mostram futuros muito mais prováveis dos que aqueles sugeridos por Nostradamus. Hoje temos o homem explorando o espaço, a sutileza da matéria, a essência do tempo e os caminhos da sociedade. Alguns os exploram em laboratórios, sob a superfície do mar, através de sensores em sondas interplanetárias. Outros exploram estes mesmos conceitos criando histórias em páginas de livros ou em películas cinematográficas. E como nós, amigos exploradores, são movidos pela curiosidade e pela ânsia de saber.

Pensem nisso...

Nenhum comentário:

Postar um comentário