SÉRIE: CIÊNCIA
por Fargon Jinn
Então vamos falar do tal buraco... Quem já não ouviu falar de buracos negros? Acho que até uma criança já teve contato com este termo. Mas de fato pouquíssimas pessoas sabem do que se trata.
Nossa estrela é uma formiguinha em comparação |
Buracos negros são apelidos para estrelas absurdamente grandes. Tão grandes que suas massas geram campos gravitacionais colossais. Estes campos fazem com que a própria estrela fique tão comprimida que em alguns casos poderiam caber dentro de uma cidade como Aracati. E estamos falando aqui de estrelas com massas acima do equivalente a oito Sóis. Estas podem chegar a ser ainda muitas vezes maiores. Acredita-se que o buraco negro existente no centro de nossa galáxia, chamado de Sagitário A*, tenha massa equivalente a quatro milhões de vezes a do Sol. Não tentem pensar o quanto seria isso, há o risco de fundir alguns neurônios nessa tentativa.
No centro de nossa galáxia está Sagitarius A* |
E então o que levou estas estrelas a terem o nome de ‘buracos’ e, ainda mais, ‘negros’? Um corpo com estes níveis de massa gera tanta gravidade que outro corpo que estivesse caindo sobre sua superfície chegaria à velocidade da luz. Obviamente, se um corpo é atraído a esta velocidade, para conseguir escapar dessa gravidade é necessário uma velocidade superior. Como a luz é o limite, nem a própria luz tem velocidade suficiente para sair desta estrela. Resultado é que não vemos a luz produzida e, portanto, para nós é um corpo negro.
Clique para ampliar a imagem |
O termo ‘buraco’ tem relação com a curvatura causada no espaço. A massa de qualquer corpo gera deformações na chamada estrutura do espaço-tempo. Por isso que nada, nem mesmo a luz, se desloca em linha reta no espaço. Os campos gravitacionais curvam o espaço, maior a curvatura quanto maior for a massa. No caso de uma estrela negra a curvatura se parece com um funil longo e fino, daí o termo ‘buraco’. E nada mais justo, visto que tudo o que ali cai não retorna, como um buraco.
Telescópio do Observatório Keck na Alemanha |
Daí vem a pergunta que não quer calar (nossa! que clichê!): se estas estrelas engolem tudo, luz, ondas eletromagnéticas, massa, como é que podemos saber que elas existem? Como podemos vê-las? Alguém já viu alguma?
Andrômeda em UV - utilizam-se o Hubble, o Chandra e outros, em terra, |
para captar o infravermelho, ultravioleta, Raio-X e raio Gama |
A resposta não é muito complicada. Ao redor de um buraco negro, logo onde começa a maior curvatura do espaço, existe um ponto chamado de horizonte de eventos. Toda matéria que está chegando a esta região sofre um estímulo muito forte, tem sua velocidade aumentada e enquanto circula ao redor emite Raio-X, luz de alta energia (ultravioleta). O bom do Raio-X e do ultravioleta é que suas ondas são tão pequenas que atravessam toda a matéria das nebulosas que por ventura estejam na região, podendo ser observadas por telescópios como o Hubble e o VLT/ESO (Very Large Telescope - European Southern Observatory) localizado ao norte do Chile, em pleno deserto do Atacama.
Via Láctea - 400 bilhões de estrelas só no núcleo |
Então, ficou esclarecido? Espero que sim. Que tal falarmos agora de algumas coisas interessantes?
O buraco negro no centro de nossa galáxia está sendo objeto de uma observação muito curiosa, pois há uma nebulosa se aproximando em rota de colisão. Sua velocidade está aumentando (no momento viajando a oito milhões de quilômetros por hora), e isto permitirá aos astrônomos entenderem como todo o processo de absorção de massa ocorre nas proximidades do horizonte de eventos.
Outra curiosidade intrigante. De fato, tudo isto que está sendo observado já ocorreu. O centro da Via Láctea está a vinte seis mil anos luz de distância de nós. Portanto, o fenômeno em observação se passou há vinte seis mil anos. A humanidade vivia nas cavernas, nesta época. Mas só agora podemos presenciar estes eventos.
Não vemos a Via Láctea por estarmos nela, mas seria algo assim |
Mais uma? Ok! Tudo o que se aproxima do horizonte de eventos sofre dilatação temporal. Ou seja, quanto mais perto mais lentamente o tempo passa. Em teoria, se passássemos próximos a estes lugares, num veículo potente o suficiente para não ser capturado pela gravidade, poderíamos levar uma eternidade para sair desta dilatação do tempo, e ao final, o espaço estaria muito diferente, civilizações teriam eclodido e talvez se extinguido, estrelas teriam nascido e encerrado seu ciclo de vida, a humanidade poderia ter atingido outros níveis de desenvolvimento.
Andrômeda. Toda galáxia tem um buraco negro supermassivo central? |
Existem inúmeras hipóteses relativas aos buracos negros, algumas em vias de se tornarem teorias, outras de serem descartadas. Em verdade, só arranhamos a superfície deste novo universo de descobertas maravilhosas, e ainda precisaremos de muita observação e experimentos para podermos começar a realmente entender o que são e como funcionam estes corpos tão misteriosos.
Busquem leituras sobre isso na internet, exploradores, o Google e a Wikipedia têm fontes bem confiáveis e para todos os níveis de entendimento. Existem também aplicativos que são destinados ao estudo de astronomia, muita literatura impressa e em e-books. Boa sorte!
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