quarta-feira, 20 de junho de 2012

Prometheus: uma análise

CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA
Prometheus
ALERTA ESTE ARTIGO TEM SPOILERS

por Fabok

Antes um protesto

Sei que o explorador deve estar ansioso pelo nosso review do filme, mas não posso deixar de falar nos eventos que os expectadores da minha sessão testemunharam antes da exibição.

Tudo o que queremos é assistir filmes com a qualidade do preço que pagamos
Quando a entrada na sala foi liberada, levei um susto. Tudo estava numa escuridão total. Imediatamente os que lá estavam começaram a ligar seus celulares para termos um pouco de luz. A princípio, até pensei que poderia ser uma campanha de marketing do filme, mas no momento que as fracas luzes de nossos celulares começaram a varrer a sala, um sentimento de horror se abateu em todos nós, e não era por causa de nenhum alien. A sala 3 do UCI Fortaleza estava simplesmente imunda. Restos de comida e pipoca por todos os lados, o chão completamente melado e, ainda por cima, os assentos sujos e com manchas de gordura para todos os lados.

Mas o pior estava por vir. Quando começou a projeção, a imagem estava tão escura, que em determinados momentos ficava difícil de entender o que estava se passando na tela. Com isso, o efeito 3D foi muito prejudicado e acabou por ficar abaixo do esperado. Com um ingresso na casa dos R$ 30,00, é uma vergonha como o UCI Iguatemi Fortaleza trata seu público. Aos exploradores, evitem as salas 3D de lá a qualquer custo.

Agora o filme

E Deus amou tanto a humanidade que a ela sacrificou seu próprio filho
Eis que Prometheus começa. A sequência inicial, com um humanóide se sacrificando para dar origem à vida na Terra, é espetacularmente bela e me encheu de expectativas. Logo em seguida a nave Prometheus surge enchendo completamente a tela, indo rumo ao desconhecido. Pensei, é... Ridley Scott está de volta e em grande estilo.

Fassbender é um andróide que esconde sua humanidade e suas obsessões
Aos poucos vamos conhecendo a nave através de David, um andróide, que aparentemente tem a missão de manter os sistemas automáticos e a tripulação da Prometheus em ordem. David parece ser único. Ele é fascinado com filmes antigos, em especial Lawrence da Arábia, e acaba por adotar o visual do personagem vivido por Peter O'Toole. Ainda assim, há algo perturbador sobre David: ele é tão humano em suas ações que acabam por torná-lo diferente de nós. Pior, ele tem o hábito de acessar os sonhos dos tripulantes que estão em congelamento criogênico para a longa viagem de dois anos da nave.

Ao chegar ao seu destino, a tripulação é despertada. Ficamos conhecendo o casal de arqueólogos Elizabeth Shawn (Noomi Repace) e Holloway (Logan Marshall-Green - reparem que o ator é quase um clone de Tom Hardy de A Origem e do novo Batman). Eles conseguem convencer o magnata Peter Wayland (Guy Pierce, debaixo de uma maquiagem muito pesada), dono da Weyland Coorp. a financiar a missão, antes de sua morte.

Logan Marshall-Gree e Tom Hardy, que é isso "doppelgängers"?

E qual seria esta missão? Shawn e Holloway encontraram evidências de que a humanidade foi criada por seres extraterrestres, os quais eles chamam de "engenheiros". Nestas evidências há um aparente convite de nossos criadores para encontrá-los. Até este momento, o filme vai criando uma atmosfera muito boa e cheia de mistérios. Mas logo vem a primeira decepção, pelo menos para os fãs de Alien - O Oitavo Passageiro. O destino da Prometheus não é LV426, o planeta no qual o alienígena do filme original é encontrado, e sim LV223, que aparentemente orbita o mesmo gigante gasoso com anéis, do filme de 79. Neste momento meu sinal amarelo se acendeu, mas logo em seguida ele passou a vermelho, quando a tripulação da nave entrou em ação.

O velho cliche da ignorância
do método científico


Para uma expedição científica com potencial de mudar para sempre a humanidade, a Weyland escolheu os piores profissionais possíveis. Os "cientistas" não seguem nenhum tipo de procedimento ou protocolo que garantam o sucesso e a segurança da missão. De cara Holloway quer logo sair da nave para explorar a estrutura que fora avistada por eles. Quando o Capitão Janek (Idris Elba) pede que o arqueólogo espere até o dia seguinte, pois eles só teriam mais seis horas de luz, este responde algo do tipo, "Esperei dois anos para poder abrir meus presentes de natal". Pior ainda é a resposta de Janek, "ok, estou aqui só para pilotar a nave". Logo em seguida nos é apresentada a personagem Vickers (Charlize Theron), os olhos e ouvidos da Weyland e que logo ordena que qualquer contato com os "engenheiros" deve ser evitado. A atriz faz o possível para tornar Vickers interessante, mas ela é apenas uma coadjuvante de luxo na trama.

Charlize não foi nem bonita nem teve uma grande atuação
Falando em incompetência, o que dizer do geologista Fifield (Sean Harris) e do biólogo Milburn (Rafe Spall). A dupla consegue criar momentos antológicos de humor involuntário. Milburn é um biólogo que não gosta de coisas mortas e junto a Fifield simplesmente abandonam a expedição quando vários corpos alienígenas aparecem. Para completar, o geologista consegue com que a dupla se perca, quando ele próprio tinha dispositivos que mapeavam o lugar em que se encontravam. O momento em que eles encontram a criatura hammerpede é tão ridículo que você torce para que os dois morram logo...

Desenvolvimento confuso e sem sentido

Salada completa, alienígenas+zombies from outer space
George Romero deve estar às gargalhadas
Daqui em diante o filme entra numa espiral de situações mal resolvidas e mal escritas. Com que propósito David infecta Halloway? Fica a impressão que os roteiristas não sabiam o que fazer para "engravidar" Shawn. Ok, a cena do "parto" é plasticamente visceral e perfeita bem ao estilo do diretor, mas Shawn, uma arqueologista, consegue operar um equipamento médico de última geração, com dores excruciantes e sozinha, do mesmo modo que operamos um tablet. A quantidade de sangue que cai nela antes do final do "parto" é tanta, que ela teria que ter alguma sequela. Mas não, deste momento em diante o roteiro resolve transformar Shawn em uma nova Ripley com poderes sobre-humanos e imune às consequências do procedimento cirúrgico pela qual passou. Para completar, ninguém à bordo pareceu se interessar pela criatura que ela deu à luz, que fica esquecida até os momentos finais do filme.

A cenografia de Dariuz Wolski é impecável e formidável
Mas quem são os responsáveis por um roteiro tão problemático? Um deles, o explorador já deve conhecer. Sim, é ele, Damon Lindelof que tem em sua "ficha criminal" pérolas como o final de Lost, e é coautor do roteiro de Cowboys and Aliens e do futuro Star Trek. Por todo o filme você consegue ver o "dedo" do senhor Lindelof. Diálogos sofríveis, eventos sem o menor sentido e, claro, mais furos no roteiro do que um queijo suíço. Vou citar alguns: Por que os "engenheiros" se dariam ao trabalho de semear a Terra com vida, para simplesmente querer exterminá-la depois? Se o que Shawn e Halloway encontraram foi um convite, por que um convite para o que obviamente parece ser uma instalação militar? O que houve na Terra dois mil anos atrás para levá-los à uma decisão tão drástica como a que vimos no filme? E por último, a tripulação de "engenheiros" devia ser ainda mais incompetente que a da própria Prometheus, por se deixarem destruir por suas próprias armas biológicas.

É um filme de Ridley Scott?

Você é humana ou andróide? (referência a Blade Runner?)
O filme consegue se salvar graças a Ridley Scott, que fez milagre com um roteiro tão fraco. Scott sabe como ninguém valorizar a direção de arte de seus filmes para criar suspense. Prometheus é um banquete visual e auditivo. O nível de detalhes da nave, roupas e cenários é espetacular sempre fazendo referência a Alien - O Oitavo Passageiro. Há ainda uma pequena referência a Blade Runner. Repare na touca que os tripulantes da Prometheus usam com o traje espacial. É muito parecida com a usada pelo personagem Gaff, vivido por Edward James Olmos naquele filme. Outro exemplo do minimalismo do diretor, as informações vistas nos computadores da nave seguem o mesmo estilo das que são vistas na Nostromo, do filme de 1979.

Uma grande sacada de Scott foi ter trazido o bizarro artista H.R. Giger, criador da criatura original do filme de 1979, como consultor. O visual da nave dos "engenheiros" e das criaturas nos remete a Alien, mas ainda assim com um toque diferente. O Space Jockey ser apenas um traje espacial dos "engenheiros" foi uma boa surpresa. Contudo, o perfeccionismo de Scott não foi tão feliz na trilha sonora composta por Marc Streitenfeld, que só brilha no momento em que Peter Weyland aparece como holograma, usando um trecho da clássica trilha composta por Jerry Goldsmith.

Ridley Scott raramente fecha suas histórias

Os 'engenheiros' como uma sociedade monástica
Os atores fazem o que podem, mas realmente quem se destaca é Michael Fassbender. David é ao mesmo tempo encantador e assustador e foi um ótimo precursor para os andróides da série. Noomi Rapace consegue dar alguma credibilidade a Shawn, mas não é nenhuma Ripley. O restante não consegue ter o mesmo tipo de empatia que a tripulação da Nostromo em Alien, infelizmente.

Para completar, Prometheus não é um estória fechada. O final em aberto lança mais perguntas do que o próprio filme conseguiu responder. Qual a origem dos "engenheiros"? Para onde Shawn e David foram? Como o "pré-facehugger" e o "pré-alien" vistos na boa cena final evoluíram para o que vimos nos filmes da série Alien? A Terra ainda está em perigo? As respostas ficaram para uma possível sequência, que nem sabemos se será realizada. Tudo vai depender da bilheteria do filme. Ah! Uma dica pro pessoal da Weyland Coorp: se vocês financiarem uma nova missão, por favor escolham uma tripulação melhor. O pessoal do Relatório da Situação de antemão já se oferece para tripular uma nova Prometheus. Nós seríamos muito mais profissionais... Já para Ridley Scott...você é o cara, mas pelo amor de Deus se livra deste picareta que é o Sr. Lindelof. Existem excelentes roteiristas por aí que fariam de tudo para trabalhar com você no universo de Alien.

Resolveram economizar no figurino
Visualmente Promeheus é arrebatador, mas isto não é suficiente. Sem um bom roteiro, o filme se torna vazio e acaba por decepcionar, justamente por toda a expectativa que criou. Como prelúdio de Alien, o filme também falha, simplesmente por não dar nenhuma resposta satisfatória aos mistérios daquele filme. Agora nos resta uma pequena esperança, Ridley Scott já anunciou que a edição em DVD e Blu-Ray terá uma nova versão com mais 20 minutos. Não estou otimista, mas vamos aguardar...

E você explorador, o que achou? Mande suas opiniões! Até a próxima!


Prometheus: 2012, EUA
Direção: Ridley Scott
Roteiro e História: Jon Spaihts e Demon Lindelof
Música: Marc Streitenfeld
Edição: Pietro Scalia
Elenco: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Charlize Theron e Michael Fassbender


Nossa avaliação:

Delta-Shield Bronze

Nenhum comentário:

Postar um comentário