por
Fargon Jinn
Se tem uma cena que me impressionou
mais do que tudo em Star Wars, foi o início do episódio I, 'A Ameaça
Fantasma'. Aquela apresentação de dois cavalheiros jedi, um
mestre e seu aprendiz (padawan),
mostrando seu trabalho como embaixadores, negociadores,
delegados do governo; funcionários públicos mas com poder
decisório, podendo, se fosse o caso, atuar com o uso de força, ou
da força, pulando para a ação num piscar de olhos. Logo em
seguida eles percebem que estão sendo enganados e sofrendo uma
tentativa de assassinato. O uso de seus poderes místicos; prender a
respiração por muito tempo, lutar contra robôs, telecinese,
supervelocidade, vários poderes que Luke Skywalker, Darth Vader ou o
Imperador nunca haviam demonstrado.
Cena de A Ameaça Fantasma (1999) |
O mais interessante era a serenidade
com que agiam. Conversavam tranquilamente, parecendo que tudo era
solucionável, naquele tom de voz suave e modulado. Moviam-se com segurança e
precisão. Um grande espetáculo.
Depois... decepção....!
O que aconteceu nos filmes seguintes?
Geoge Lucas - Maquete Death Star |
Star Wars é uma saga que infelizmente
sofreu inúmeras mutações. O pior é que mexeu-se no que era
espetacular, no que gerava discussões, especulações, no que não
precisava ser mexido.
Se você cria um trabalho com o
alcance e a profundidade da obra de George Lucas, acho justo que se possa ir
corrigindo algumas falhas, ou impossibilidades técnicas. Não sou um
purista. Acredito que se em 1977 não existia tecnologia suficiente
para algum tipo de imagem que seria importante mostrar, ou se algum
efeito visual não envelheceu bem, nada de errado em fazer estes
retoques. Todo mundo quer ver seu trabalho durar. Os cineastas devem
sentir-se mal cada vez que olham para um trabalho antigo no qual uma
determinada cena já não causa a reação que se esperava.
Até aí tudo bem. Mas se torna um
problema quando o diretor resolve recontar a sua história. E piora
quando estas alterações tocam naquilo que estava bem estabelecido,
e era convincente.
Cena de Uma Nova Esperança (1977) |
Um bom exemplo é a mística da força.
Nos filmes 'Uma Nova Esperança' e 'O Império Contra-Ataca', ela era
um poder intangível, algo que vinha da fé, do estágio de evolução
espiritual em que o ser se encontrava. Na 'correção' da história
tudo se dá através de algo chamado midi-chlorian,
que não é explicado, mas sugere-se a idéia de que exista uma micro
civilização, e que esta possa influenciar no destino do universo.
Curiosamente esta civilização escolhe algumas pessoas em detrimento
de outras, gera crianças assexuadamente, e paradoxalmente se tornam
escravos dos seres que escolheram.
Talvez
existam facções ou nações distintas dos tais midi-chlorian, afinal existem os jedi
e os sith, o bem e o mal, o lado obscuro e o iluminado.
Mas
como foi, e porque George Lucas resolveu sair da esfera mística para
a biológica? E se a coisa é biológica, porque não se desenvolveu
métodos para injetar midi-chlorian
nas células de pessoas poderosas, soldados, etc? Aparentemente eles
se prestam a qualquer propósito, com certeza não se incomodariam em ser
concentrados em algumas pessoas.
Como
fica o 'livre arbítrio' neste universo? Alguém que possua altas concentrações
de midi-chlorian pensa
por si, ou é influenciado em suas ações?
Cena polêmica de 'ET' |
De
fato Geoge Lucas, tentando corrigir as suas aparentes falhas, criou
algumas bem reais. Entende-se, em parte, quando Spielberg resolveu
tirar as armas das mãos dos policiais em E.T.
Estavamos ali, dizendo que a polícia iria fazer um cerco armado
contra crianças?!?! Claro que não, foi um descuido, uma falha no
roteiro, ou da direção. Tudo bem, vamos remover aquela atrocidade.
Mas modificar o caráter das personagens, baseando-se em pontos de
vista do 'politicamente correto'?! Isso é demais. Principalmente por
que estas coisas são sazonais. E assim como se dá importância a
isto hoje, poderá ser algo fútil em mais dez anos.
Um filme é feito em determinada época, e todo filme em maior ou menor
grau é datado. Não se pode ir mudando um filme de tantos em tantos
anos, apenas por que um palavrão caiu no ridículo. Não estamos falando aqui da Monalisa de Leonardo. O filme é um bem público, é um produto que gostamos de ver e rever. Não se pode, a cada vez que se assiste a um filme, ver um filme novo.
Cena original de Uma Nova Esperança - Hans atira primeiro |
A
cena em que Hans Solo deixa de atirar primeiro, no bar em Mos
Eisley, segundo a nova versão
da personalidade do personagem pode parecer politicamente correta,
mas ao meu ver é uma deturpação e desonestidade
com o público mais velho, que acompanhou o nascer e o ocaso desta
franquia.
Ocaso
sim! Quem é que pode, inclua-se aí as crianças de hoje,
dizer que esta série manteve sua qualidade. Minha filha adora Star
Wars, mas faz um monte de críticas a estas incoerências, ela
percebe as falhas na lógica da história e na construção das personagens.
A
esperança é que assim como o sol se põe, no dia seguinte ele nasce outra vez.
Quem sabe algum dia vejamos este renascer. Mas que seja um renascer
com qualidade e respeito pela sua platéia, que se faça algo,
vizando a honestidade de uma história ao invés de algo que seja
'comercialmente vantajoso'.
Enquanto
isso... may the force (and the hope) be with you!
E em breve será lançada a versão bluray da saga Star Wars, e já foi confirmado que o yoda marionete do Ep. 1 será substituído pela versão CG, e sabe-se lá o que irão alterar na trilogia original.
ResponderExcluirAi, caramba, isso muito me preocupa... Mas vc quis dizer ep. 1 ou ep. 4? Isso me deixou em dúvida, pq eu achava que o Yoda do ep. 1 já era CGI. Valeu pelo comentário.
ResponderExcluirFargon Jinn
O Yoda do episódio 1 era marionete ainda. Só nos episódios 2 e 3 é que o CGI foi utilizado.
ResponderExcluirComo criador da obra, Lucas tem todo o direito de alterá-la como lhe convier. Agora se nós fãs aprovamos ou não é outra coisa...