sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Star Wars - o incerto universo de George Lucas


por Fargon Jinn

Se tem uma cena que me impressionou mais do que tudo em Star Wars, foi o início do episódio I, 'A Ameaça Fantasma'. Aquela apresentação de dois cavalheiros jedi, um mestre e seu aprendiz (padawan), mostrando seu trabalho como embaixadores, negociadores, delegados do governo; funcionários públicos mas com poder decisório, podendo, se fosse o caso, atuar com o uso de força, ou da força, pulando para a ação num piscar de olhos. Logo em seguida eles percebem que estão sendo enganados e sofrendo uma tentativa de assassinato. O uso de seus poderes místicos; prender a respiração por muito tempo, lutar contra robôs, telecinese, supervelocidade, vários poderes que Luke Skywalker, Darth Vader ou o Imperador nunca haviam demonstrado.
Cena de A Ameaça Fantasma (1999)

O mais interessante era a serenidade com que agiam. Conversavam tranquilamente, parecendo que tudo era solucionável, naquele tom de voz suave e modulado. Moviam-se com segurança e precisão. Um grande espetáculo.

Depois... decepção....!

O que aconteceu nos filmes seguintes?

Geoge Lucas - Maquete Death Star
Aquilo tudo morreu com a migração da alma de Qui-Gon Jinn para o além?

Star Wars é uma saga que infelizmente sofreu inúmeras mutações. O pior é que mexeu-se no que era espetacular, no que gerava discussões, especulações, no que não precisava ser mexido.
Se você cria um trabalho com o alcance e a profundidade da obra de George Lucas, acho justo que se possa ir corrigindo algumas falhas, ou impossibilidades técnicas. Não sou um purista. Acredito que se em 1977 não existia tecnologia suficiente para algum tipo de imagem que seria importante mostrar, ou se algum efeito visual não envelheceu bem, nada de errado em fazer estes retoques. Todo mundo quer ver seu trabalho durar. Os cineastas devem sentir-se mal cada vez que olham para um trabalho antigo no qual uma determinada cena já não causa a reação que se esperava.

Até aí tudo bem. Mas se torna um problema quando o diretor resolve recontar a sua história. E piora quando estas alterações tocam naquilo que estava bem estabelecido, e era convincente.

Cena de Uma Nova Esperança (1977)

Um bom exemplo é a mística da força. Nos filmes 'Uma Nova Esperança' e 'O Império Contra-Ataca', ela era um poder intangível, algo que vinha da fé, do estágio de evolução espiritual em que o ser se encontrava. Na 'correção' da história tudo se dá através de algo chamado midi-chlorian, que não é explicado, mas sugere-se a idéia de que exista uma micro civilização, e que esta possa influenciar no destino do universo. Curiosamente esta civilização escolhe algumas pessoas em detrimento de outras, gera crianças assexuadamente, e paradoxalmente se tornam escravos dos seres que escolheram.

Talvez existam facções ou nações distintas dos tais midi-chlorian, afinal existem os jedi e os sith, o bem e o mal, o lado obscuro e o iluminado.
Mas como foi, e porque George Lucas resolveu sair da esfera mística para a biológica? E se a coisa é biológica, porque não se desenvolveu métodos para injetar midi-chlorian nas células de pessoas poderosas, soldados, etc? Aparentemente eles se prestam a qualquer propósito, com certeza não se incomodariam em ser concentrados em algumas pessoas.
Como fica o 'livre arbítrio' neste universo? Alguém que possua altas concentrações de midi-chlorian pensa por si, ou é influenciado em suas ações?
Cena polêmica de 'ET'

De fato Geoge Lucas, tentando corrigir as suas aparentes falhas, criou algumas bem reais. Entende-se, em parte, quando Spielberg resolveu tirar as armas das mãos dos policiais em E.T. Estavamos ali, dizendo que a polícia iria fazer um cerco armado contra crianças?!?! Claro que não, foi um descuido, uma falha no roteiro, ou da direção. Tudo bem, vamos remover aquela atrocidade. Mas modificar o caráter das personagens, baseando-se em pontos de vista do 'politicamente correto'?! Isso é demais. Principalmente por que estas coisas são sazonais. E assim como se dá importância a isto hoje, poderá ser algo fútil em mais dez anos. 
Um filme é feito em determinada época, e todo filme em maior ou menor grau é datado. Não se pode ir mudando um filme de tantos em tantos anos, apenas por que um palavrão caiu no ridículo. Não estamos falando aqui da Monalisa de Leonardo. O filme é um bem público, é um produto que gostamos de ver e rever. Não se pode, a cada vez que se assiste a um filme, ver um filme novo.
Cena original de Uma Nova Esperança - Hans atira primeiro
A cena em que Hans Solo deixa de atirar primeiro, no bar em Mos Eisley, segundo a nova versão da personalidade do personagem pode parecer politicamente correta, mas ao meu ver é uma deturpação e desonestidade com o público mais velho, que acompanhou o nascer e o ocaso desta franquia.
Ocaso sim! Quem é que pode, inclua-se aí as crianças de hoje, dizer que esta série manteve sua qualidade. Minha filha adora Star Wars, mas faz um monte de críticas a estas incoerências, ela percebe as falhas na lógica da história e na construção das personagens.
A esperança é que assim como o sol se põe, no dia seguinte ele nasce outra vez. Quem sabe algum dia vejamos este renascer. Mas que seja um renascer com qualidade e respeito pela sua platéia, que se faça algo, vizando a honestidade de uma história ao invés de algo que seja 'comercialmente vantajoso'.
Enquanto isso... may the force (and the hope) be with you!

3 comentários:

  1. E em breve será lançada a versão bluray da saga Star Wars, e já foi confirmado que o yoda marionete do Ep. 1 será substituído pela versão CG, e sabe-se lá o que irão alterar na trilogia original.

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  2. Ai, caramba, isso muito me preocupa... Mas vc quis dizer ep. 1 ou ep. 4? Isso me deixou em dúvida, pq eu achava que o Yoda do ep. 1 já era CGI. Valeu pelo comentário.
    Fargon Jinn

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  3. O Yoda do episódio 1 era marionete ainda. Só nos episódios 2 e 3 é que o CGI foi utilizado.
    Como criador da obra, Lucas tem todo o direito de alterá-la como lhe convier. Agora se nós fãs aprovamos ou não é outra coisa...

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