FAZENDO A HISTÓRIA
George Lucas criou Star Wars como um revival dos antigos seriados de cinema. Já dissemos no artigo anterior. Mas como foi isso em detalhes, é o que trazemos aqui.
Grande fã dos antigos filmes e diretores, Lucas sempre buscou inspiração na história do cinema. “Uma ideia que já foi feita, pode ser reciclada, filtrada e dissecada. A partir da essência obtida podemos gerar novas propostas.” Dizia um de seus professores, na Universidade Sulista da Califórnia.
Star Wars é resultado de um estudo mitológico
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Biggs Darklighter e Luke Skywalker |
Durante um ano ele preparou um argumento para um seriado de cinema. Seria uma space opera, que contaria uma saga heróica, um épico. Os seus personagens variavam em número, motivações, trajetórias, arquétipos, etc, a cada nova versão que escrevia. Mas, mesmo com muitas variantes, não chegava a satisfazer-se com nada.
Um dia leu uns trabalhos de um estudioso, Joseph Campbell, um mitologista. George Lucas procurou Campbell, levando suas anotações, argumentos e construção de personagens, buscando uma orientação de arquétipos e figuras mitológicas que pudesse acrescentar em seus personagens e sua narrativa.
O roteiro se estrutura
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Livro de 1949 |
Campbell, entusiasmando-se com o que viu, começou a fazer sugestões e correções a este jovem roteirista, que tudo anotava, acresentando linhas de trajetórias, e reescrevendo rapidamente seu argumento.
Ambos trabalharam animadamente por vários meses até que, satisfeito, George Lucas resolve levar o seu semipronto roteiro para alguns estúdios. Em vários nem foi recebido, em outros ganhou um sonoro não. Decepcionado, por um lado, e estranhamente satisfeito por outro, resolveu que ia mudar a sua proposta. Não queria mais um seriado. Mas ia construir um enredo a partir de um de seus capítulos.
Escolheu o que viria a ser o número quatro. Achava que seria interessante levar um filme ao cinema que apresentava-se, sem mais nenhum esclarecimento, como o quarto de uma série. Queria ver o que as plateias diriam, se procurariam pelos anteriores, ou se aceitariam sem questionar.
Roteiro pronto, preciso de dinheiro
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Nesta fase Luke Starkiller ainda seria uma garota |
Procurou então a Universal e a Paramount, onde também foi recusado. Desta vez, contudo, houveram discussões, olharam com uma análise mais acurada e até quiseram que ele revisse vários aspectos. Percebendo, então, que estava no caminho certo, levou seu roteiro a Alan Ladd Jr. que, após uma conversa breve, sentiu que ali poderia haver algo promissor.
Ambos apresentaram a proposta aos diretores da Fox. Alan acreditava que Star Wars pudesse ser um sucesso semelhante ao Planeta dos Macacos (1968), orçando a execução em US$15 milhões. O Estúdio, no entanto, não queria arriscar mais do que US$10 milhões. Lucas então reprogramou todo o seu orçamento e apresentou uma nova proposta de US$9,9 milhões. Juntamente, propôs uma minuta de contrato, dizendo que o merchandising, participação na bilheteria, a marca e o direito às continuações, ficariam para ele em troca do cachê de diretor, escritor e roteirista. A Fox deu sinal verde, e a produção teve início.
A infraestrutura de um sucesso
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Joe Johnston inspirou-se num hamburger mordido e uma |
azeitona recheada ao lado para fazer a Millennium Falcon |
Durante o período de um ano, George Lucas escreveu e reescreveu seu roteiro, seus personagens evoluíram e amadureceram. Artistas foram chamados para apresentar desenhos de produção de cenários e personagens. Ralph McQuarrie e Joe Johnston foram escolhidos para dar vida a este novo universo, com suas visões arrojadas e não convencionais.
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Vista Cruiser, um dos primeiros controladores de movimento de câmera |
Outros também foram chamados, em sua maioria estudantes, que ofereceram uma saída mais viável para a movimentação de câmera. Em contrapartida ao padrão normal, onde a maquete era movida em frente da câmera, neste, computadores seriam utilizados para controlar a movimentação de câmera durante as tomadas de ação. Algo que no fim seria revolucionário para o processo. Mas isto viria a ter um preço para Lucas. Os constantes defeitos que o novo sistema sofria, iriam provocar a interferência do Estúdio que insistiria para que fosse adotado o sistema convencional.
George Lucas fincou pé em todas as suas exigências e levou o trabalho adiante. Estas e outras questões quase levaram o filme a ser cancelado em vários momentos. De um lado os executivos da Fox tinham seus interesses, seus amigos e suas liberações de verba. Do outro estava Alan Ladd Jr. que, isolado, apoiava um jovem diretor que queria fazer um filme autoral dentro de um estúdio pertencente à "indústria do cinema". Este, também, viria a pagar por sua insolência.
Compartilhando a inspiração
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Dogfights inspirados em cenas do filme Labaredas do Inferno (1966) |
Por fim, equipe montada, Lucas reuniu todos e mostrou tudo aquilo que o tinha inspirado para Star Wars. Queria que os responsáveis pelos trabalhos futuros vissem aquilo que ele tinha em mente. Foram inúmeras mostras, desde Akira Kurosawa com seus Sete Samurais (1954), A Fortaleza Oculta (1958) e Yojimbo (1961), Beowulf, as lendas do Rei Arthur, a série Flash Gordon (1930), “O Herói de Mil Faces” de Joseph Campbell, Labaredas do Inferno (1966), Duna de Frank Herbert, O Mágico de Oz (1939), 2001: Uma Odisséia no Espaço (1969) e Metropolis (1927), entre muitas outras referências.
Com teimosia e tudo, George Lucas teve que, ainda assim, fazer inúmeras concessões aos executivos da Fox. A mais famosa foi a retirada do “Capítulo 4” da abertura, inspirada nos letreiros de Flash Gordon e Buck Rogers. Esta, posteriomente foi recolocada. Méritos do sucesso. Ao verem os resultados na bilheteria a Fox imediatamente fechou contrato de distribuição das sequencias, permitindo qualquer alteração no filme já realizado.
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Continua na parte III, quando mostramos alguns dos muitos problemas de produção e mudanças do roteiro com mais detalhes.