FAZENDO A HISTÓRIA
Em 25 de maio de 1977, George Lucas estreava, em salas de cinema dos Estados Unidos, o terceiro filme de sua carreira, Star Wars. Uma obra completamente autoral, com orçamento mediano e dentro de um gênero infame, a ficção científica. Os filmes pertencentes a esta classificação, com poucas exceções, eram considerados filmes 'B', ou de baixo orçamento.
Nem Lucas imaginava a onda de sucesso que este primeiro filme iria inaugurar.
De Lumierè e Méliès
Até então, a FC no cinema tinha obtido seu relativo sucesso. Os irmãos Lumière quando começaram a divulgar o cinematógrafo, em 1895, utilizaram cenas do cotidiano que seriam interessantes, chocantes ou hilárias. Mas eram apenas momentos, não contavam histórias. Foi Méliès quem percebeu o seu potencial ao levar histórias completas para a telona, e lançou o primeiro filme de ficção científica do cinema mudo, Da Terra à Lua, em 1902, da obra de Jules Verne. Desde então este gênero arrebatou a imaginação de jovens e adultos por décadas.
Na década de 50, com o medo da guerra fria, o cinema foi buscar na pulp fiction, inspiração para produzir obras que fossem de encontro com o momento e os anseios do publico.
Ficção científica foi trash durante vinte anos
Rebelião dos Planetas - 1958 |
Substituindo os filmes de terror da década de 40, o cinema produziu inúmeras obras que exigiam o desenvolvimento de tecnologias e narrativas próprias, e sempre a baixos custos. Enquanto o grande público valorizava, com mais força, comédias, musicais, dramas e épicos, os filmes de FC, abriram espaço para os seriados de fantasia, como Flash Gordon e Buck Rogers. A cada semana, o mercado infanto-juvenil era saudado com um novo episódio de aventura espacial ou combates alienígenas.
Obraprima de Kubrick - 1969 |
Na década seguinte, com a conquista do espaço tornado-se uma realidade, surgiram filmes com propostas mais sérias, orçamentos melhores e um público mais diversificado. Tivemos, neste período, Planeta dos Macacos (1968) e 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1969).
Nos anos 70, este gênero, embora querido do público, desvalorizou-se, culpa de produções de baixíssimo orçamento e pessimamente conduzidas. Ficção científica havia se tornado o velório de atores e diretores que ainda tentavam se manter sob os holofotes da fama.
O momento da virada e seu visionário
Uma proposta para reviver os seriados de outra geração |
Neste cenário, George Lucas surge com a idéia marota de retomar o mote dos antigos seriados de cinema. Desta vez, contudo, teríamos uma produção de longa metragem. Seriam mostrados novos elementos dramáticos, precisariam ser desenvolvidas novas tecnologias de efeitos especiais. Teríamos, assim, um drama épico de fantasia e ficção científica. Algo que poderia atrair aos cinemas toda gama de público, desde aqueles que buscavam as superproduções do passado, até aos que assistiam a todo tipo de filme de baixa categoria, desde crianças até os mais velhos amantes da sétima arte.
A Fox queria uma bilheteria mediana e pouco investimento |
A Fox, relutantemente ofertou um orçamento de dez milhões de dólares, muito inferior aos filmes de grande interesse de público da época. Mas foram os únicos que quiseram arriscar. O Estúdio, há muito, vinha procurando algo que se assemelhasse ao retorno financeiro de Planeta dos Macacos.
O pulo do gato
George Lucas durante as filmagens de Star Wars |
Lucas de forma visionária, declinou de seu cachê como diretor, escritor e roteirista, ficando com a renda futura das vendas de merchandising e participação de bilheteria. O pulo do gato.
Buscando reduzir ainda mais os custos de produção, para encaixar em seu orçamento, tão apertado. George Lucas começa a percorrer as universidades atrás de estudantes e outras pessoas que pudessem contribuir com soluções às suas necessidades de efeitos especias inovadores e realistas.
A jogada de mestre: nasce a ILM
A coisa funcionou tão bem, que, às pressas, ele cria uma nova empresa, a ILM (Industrial Light and Magic), sendo esta a responsável pela geração de todos os efeitos visuais e sonoros que viriam a ser apresentados em seu filme. Até então, FX era produzido por freelancers, não existia um mercado capacitado para manter em tempo integral profissionais com estas especializações. Geralmente os diretores, como mágicos ilusionistas, vinham com suas próprias soluções para os efeitos, ou contratava-se um consultor ou especialistas para cenas de explosões, tiroteios, lutas corporais, etc.
Espetacular cena de Mestre dos Mares - 2003 |
Com a estreia de Star Wars, o cinema mudou radicalmente. Em geral era muito difícil produzir efeitos convincentes. Os diretores preferiam deixar algo subentendido do que passar o vexame de ter cenas ridículas e por vezes hilárias em suas obras.
Surge um novo paradigma
Um livro para contar esta história de magia e sucesso |
Mas a ILM mostrou que, com sua tecnologia e um orçamento razoável, os efeitos especiais tinham se transformado na pedra filosofal do cinema moderno. Agora, aquilo que só poderia existir na imaginação dos diretores, tornaria-se real e crível. Foi o novo boom do cinema, nenhum orçamento era grande demais para incluir-se FX da ILM, e o público respondia lindamente, com excelentes resultados de bilheteria.
Assim Star Wars surgiu no cenário mundial. Uma explosão com reação em cadeia. Mudou o cinema e mudou o público. Trouxe novos investidores e gerou toda uma nova linha de profissionais. Abriu novos horizontes com a venda de produtos, impulsionou o desenvolvimento do homevideo e de novas tecnologias cinematográficas.
A nova geração sabe o que significa Star Wars?
Eu quero um par de óculos desses....!!! |
Hoje em dia, a garotada que vai ao cinema ver a estreia de Star Wars I - A Ameaça Fantasma em 3D, pensa que finalmente vai ver um destes filmes no cinema. É muito mais do que isso. Não sabem, mas estão prestigiando a um marco simbólico da arte. O Episódio I só foi possível graças à visão e ousadia de George Lucas, à fé de homens como Alan Ladd Jr, da Fox, e ao público de 1977 (dentre eles, este que aqui vos escreve). Público este que foi ao cinema desprovido de preconceitos, entendeu e acolheu tão bem esta obra de expressão artística.
Amigos exploradores, já temos publicado aqui alguns artigos sobre esta saga maravilhosa, e este é o primeiro de uma série de novos artigos que estarei levando a vocês pelas próximas semanas e meses. É um tributo a este universo, impalpável, mas profundamente real que existe dentro de nossas mentes e nossos corações. Um grande abraço a todos, parabéns a George Lucas, à Fox, e a todos nós neste nosso trigésimo quinto aniversário.
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Até a próxima...
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