SÉRIE: CRÔNICAS INSTIGANTES
por Fargon Jinn
Recentemente, em entrevista à MTV americana, o ator Joel Kinnaman (Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres, 2011), fez várias declarações a respeito do filme que irá estrelar. Dirigido pelo brasileiro José Padilha (Tropa de Elite, 2007), este é, nada mais nada menos, do que um remake de Robocop (1987), um dos maiores sucessos da década de 80.
Joel Kinnaman será o policial Alex J. Murphy |
José Padilha quando estreou com seus filmes, brilhou forte no mundo inteiro. E o reflexo disso está aí. Como que corroborando com estas espectativas, Joel Kinnaman, o astro principal do filme, o policial Murphy, descreve Padilha como sendo um jovem gênio, durão e criativo. Acrescenta ainda que sua visão sobre Robocop é única e espetacular, mostrando um personagem mais humano, respeitando os conhecimentos da neurolinguística. Desde sua concepção visual até o comportamento do homem-máquina, este Robocop atua com base nas mudanças ocorridas na criminalidade contemporânea, e nas modernas visões de combate ao crime e futuro da sociedade.
To Serve and Protect
Omni Consumer Products - a megacorporação criadora do Robocop |
Robocop nos fala de um futuro distópico, onde as megacorporações controlam as funções sociais. O Estado admite a sua ineficiência em administrar os serviços fundamentais, entre eles, a segurança pública. Desta forma, o tecido social, totalmente corrompido e entregue às gangues e aos cartéis de drogas, está em colapso. A força policial, igualmente desonesta, não consegue manter a paz e a ordem.
Peter Weller é o Alex Murphy da versão original |
Um policial honesto é posto propositalmente numa situação de alto risco e, portanto, acaba assassinado. Partes de seu corpo são preservadas, mas sua mente e memórias são bloqueadas por um software. A parte do corpo que aloja o seu sistema nervoso é instalada num robô. Assim, Murphy torna-se o policial perfeito, união do poder da máquina à infinita capacidade da mente humana.
Onde parece haver uma disputa entre homem e máquina, temos em outra camada um conceito diferente. Será o futuro consequência da ganância sem limites? Ou um resultado da nossa irresponsabilidade com a gestão da coletividade.
Estatísticas sobre uma realidade confusa
Podemos assim, fazer várias inferências que nos posicionam no que ocorre no nosso país, nos Estados Unidos e em diversas partes mundo.
Até algumas décadas atrás acreditava-se que a violência era uma força ascendente sem solução. A pobreza aumentando e a moral decaindo. A nossa elite social, há muito, deixou de ser exemplo. Pelo contrário, ali estão as fontes de muitos dos males sociais. Claramente, mudanças no sentido de corrigir este disparate não são simples. Mas ocasionalmente, algumas ocorrências surgem que provocam alterações imprevisíveis.
Nos anos 90 detectou-se uma queda acentuada na violência urbana dentro dos Estados Unidos. Inicialmente avaliou-se que a polícia e o judiciário vinham atuando com maior rigor. Mas, pesquisas posteriores mostraram outro fator muito mais influente: a população de jovens em faixa etária normalmente ligada a estes altos índices de criminalidade diminuiu drasticamente.
Aborto, seria uma solução para os políticos brasileiros?
O verdadeiro motivo é que, nos anos 70, o aborto foi legalizado em todos os Estados norte-americanos. Os jovens ligados às estatísticas de criminalidade estão dentro das classes sociais que mais recorrem ao aborto. Resultado: houve uma redução significativa na natalidade daquele grupo. Consequentemente, o número de jovens potencialmente criminosos na década de 90 foi muito menor e continua reduzindo.
Por outro lado, vemos que, atualmente, os grupos criminosos mais importantes são os que se formam em países onde a religião interfere na aprovação do aborto. Geralmente são países do terceiro mundo. Maior pobreza, maior natalidade, menor qualidade na formação, maior potencialidade de jovens criminosos. Liderando estas estatísticas estão a América latina e a África.
Gangues de origem latino-americana |
Se verificarmos os filmes e séries policiais estadunidenses, notamos com folga que as “máfias” agora não são mais italianas, mas sim cubanas, porto-riquenhas, mexicanas, colombianas. Num outro nível existem máfias russas, chinesas e de outros focos asiáticos ou da Europa oriental.
Robocop 4 ou Tropa de Elite 3?
Um policial moderno deve entender destas questões e de como se formam e estruturam-se estes guetos criminais. Acredito que este seja o enfoque sócio-político a ser trabalhado no filme de Padilha. A vivência e o conhecimento deste jovem diretor com as noções da criminalidade, juntamente com as questões policiais do Brasil, dos Estados Unidos e ao redor do mundo, podem vir a criar as condições ideais para um Robocop mais politizado e mais agressivo do que o filme original.
Se pensarmos bem, poderemos, em agosto de 2013, ver um Robocop, dizer – Pede prá sair! Pede prá sair! Você não é caveira! Pede prá sair!
Seria este um “Robocop Nativity“ ou um “Robocopitão”?
Legal, preciso ver esse filme do Padilha para entender qual leitura ele faz do futuro policial, já que agora ele partiu para a ficção.
ResponderExcluirabraços, Sonia
Oi Sônia,
ExcluirObrigado pelo comentário.
Fargon Jinn