SÉRIE: CRÔNICAS NERDS
por Fargon Jinn
Olá amigos exploradores. Sendo esta semana um período do ano muito especial, estou trazendo este presente ou esta pérola, dependendo dos olhos de quem vê. O que temos nas linhas a seguir é algo com o qual esbarrei nas minhas atividades exploratórias da internet. Algo que além de me encher de espanto e incredulidade, também me trouxe um pouco daquele entusiasmo infantil e inconsequente. Me fez pensar e sentir como NERD, como alguém que sonha desmedida e irresponsavelmente. E, de repente, resolve que se ninguém começar a fazer em algum ponto, ninguém nunca o fará. Então, por que não ser eu o primeiro lunático a agir? E começo a dar asas à imaginação. Sigo aquilo que alguém disse: “Toda obra prima é um por cento de inspiração e noventa e nove de transpiração!”.
Comparação entre construções e navios com a Enterprise |
Então, eis que um misterioso nerd, Dan (apenas Dan), com uma idade que deve estar na casa dos cinquenta, engenheiro elétrico e de sistema, que trabalha, há trinta anos, numa poderosa empresa que explora tecnologia de ponta, senta-se na frente de seu computador e do nada cria um site que vem recebendo dezenas de milhares de visitas diariamente. buildtheenterprise.org, é sem dúvida a coisa mais impressionante que já encontrei nos últimos anos.
Um sonho, um delírio e muito trabalho
Enterprise de Star Trek (2009) |
Ele acredita que poderemos construir uma Enterprise em vinte anos. Mas não uma nave qualquer. A Enterprise. Aquela, capitaneada por ninguém menos do que James Tiberius Kirk. A NCC 1701-x, Gen1. Estamos falando aqui de uma realidade? Ou é um sonho? Seria um delírio? Nenhum, nem outro. É uma proposta para o mundo. Um desafio ao estilo J. F. Kennedy.
Orçamento para vinte anos |
Trata-se aqui de uma réplica estrutural na escala 1:1 da nave estelar que deveria ser construída em 2245, cujo custo é orçado em um trilhão de dólares americanos. Equivalente a cinquenta bilhões/ano. Ou seja, como se lançássemos uma centena de missões do ônibus espacial por ano, pelos próximos vinte anos.
A proposta toda está pronta. Ele gerou tudo, desde os custos de produção; organogramas; cronogramas; plantas; soluções de engenharia; métodos de construção; desenvolvimento de tecnologias; usos; missões; evolução do projeto; e, todo o programa espacial para os próximos cem anos, pelo menos. É trabalho de gente grande com imaginação de gente miúda, prolixo, proativo, fértil e desmedido.
A culpa é de Newton
A coisa toda é extremamente fantasiosa. Algumas das soluções são baseadas em conhecimentos teóricos, mas quando se faz uma projeção realista sua aplicação não ‘bate’. Por exemplo, em Star Trek, existe um gerador de gravidade. A nave de Dan tem a roda ou carrossel gravitacional, concebida para suprir a tecnologia de gravidade artificial. Este seria um cilindro giratório do tamanho da seção disco (parte dianteira da Enterprise) que produziria o equivalente a uma gravidade terrestre.
A falha desta proposta está nas três Leis de Newton. Ao iniciar-se um sistema rotatório no interior de uma espaçonave, a força aplicada ao cilindro será repartida com o restante do sistema. O cilindro gira para um lado e o restante da nave para o outro. Teríamos que compensar com jatos de manobra.
A cada vez que a Enterprise parte para uma viagem ou chega ao seu destino, o cilindro deve parar, para que se fixe todo o sistema estrutural nas alterações inerciais e, já no novo estado inercial, retomar sua rotação. Reiniciar o giro durante deslocamento, mesmo já atingida sua velocidade de cruzeiro é outra dificuldade, pois há uma séria implicação na estabilidade do sistema.
Troco três reatores nucleares por um de anti-matéria
Propulsor iônico com tanque no Electric Propulsion Laboratory em Ohio |
Enquanto que no século XXIII a nossa nave teria propulsão de dobra espacial e energia de reatores matéria-antimatéria, esta seria com motores iônicos e reatores nucleares. A de Kirk viajaria entre as estrelas, a de Dan, entre os planetas e satélites do Sistema Solar.
São inúmeras diferenças, e não poderia ser de outra forma. Mas o que mais chama à atenção é a seriedade com que são levadas as propostas. São páginas e páginas esclarecendo detalhes de construção, produção, utilização e correlação a outras soluções de usufruto do espaço. Desde posto de reabastecimento para a “frota” terrestre, reparo e lançamento de satélites, limpeza de detritos orbitais, passando por laboratório espacial e centro turístico, até ferramenta de instalação de bases lunares, planetárias e cidades nas nuvens (estilo Star Wars).
Lasers no papel de Phasers |
Não estou brincando. Ele planeja instalar um laser de cem megaWatts na seção frontal do disco com o fim de desintegrar o lixo espacial, fazendo as honras dos canhões phasers. O que nós poderíamos usar para substituir os torpedos fotônicos?
É prá falar a sério...?!
E os internautas estão levando à sério. O site já sofreu crash mais de uma vez por acesso excessivo.
Olha! É uma delícia. Explorei o site como se estivesse num dos muitos jogos de Star Trek. É uma experiência de realidade virtual. Você se perde no entusiasmo da imaginação. Me senti criança, novamente, assistindo a Kirk e sua tripulação, nas noites de sexta-feira, numa TV preto e branco.
Quem sabe?! Vai que realmente a massa-crítica é atingida e, num efeito turba, o projeto começa a deslanchar. Talvez não seja em vinte anos, talvez seja em sessenta, talvez mais. O importante é que tem um maluco lá fora. E ele não sabe se conter. Com a cabeça nas nuvens e os pés ainda mais altos, ele desistiu de encontrar motivos-para-não-fazer. Resolveu que os-motivos-para-fazer são melhores, e abriu a torneirinha. Essa, nem o Visconde de Sabugosa fecha. Aahh! Essa é para nerds! E... o que nerds querem... Huummm...!!!
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