segunda-feira, 28 de maio de 2012

Área Q – ficção alienígena brasileira

CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

por Fargon Jinn

O Brasil tem produzido filmes de alta qualidade, nos últimos quinze anos. “O Quatrilho” (1995) foi o primeiro que recordo como sendo um produto refinado. Qualidade de produção, direção de alto nível, atores reconhecidos e outros que são verdadeiras revelações, história e roteiro com excelência, são alguns dos itens que podemos ressaltar neste e em muitos outros depois.

Há alguns anos me choquei com o nível de Cidade de Deus (2002), um filme que, além de atores desconhecidos e excelentes, uma fotografia avassaladora, tinha um roteiro maravilhoso e, o melhor, apresentava uma das mais perfeitas edições que já vi.

Filmes espíritas dominam o mercado nacional

Produção nacional de 2008
Mais recente, vieram os filmes de cunho espírita, notamos aqui uma queda pequena, mas importante, na qualidade. As histórias são conhecidas de muita gente, e não houve coragem de produzir um roteiro marcante. Para piorar, além da falta de inovação na direção, sentiram que tínhamos qualidade suficiente para arriscar CGI’s. Que falta de autocrítica. Senti-me assistindo a filmes da década de 80, feitos para a TV norte-americana.

Desta vez Halder Gomes (Cine Holiúdy – O Astista Contra o Cabra do Mal, 2004), um excelente cineasta brasileiro, atuou como produtor executivo de Área Q.

Debut brasileiro na ficção fantástica

Cenas nas formações rochosas de Quixadá - CE
Área Q é uma ficção alienígena, gênero que pertence à ficção científica. Este roteiro, no entanto, tem um argumento pouco definido: Um repórter de Los Angeles narra suas experiências de abdução por extraterrestres, durante o período em que investigava fenômenos de abdução no território brasileiro, Quixadá – CE.

Falando assim, até parece definido mas, ao final do filme, não sabemos dizer, realmente, qual é o ponto focal da história. É a experiência do jornalista? São os fenômenos de abdução? São os mistérios e milagres ligados às vítimas dos alienígenas? São as motivações dos ET’s? Ou é o filho desaparecido do protagonista?

Halder Gomes e Tânia Khalil
Nas questões técnicas, vai uma nota baixa para a fotografia e a qualidade da imagem, muito granulada, cores esmaecidas, sem contraste e sem brilho. Não sei exatamente se foi proposital, ou se foi resultado de um orçamento deficiente, ou se foi pelo cinema, mas é uma das mais baixas qualidade de imagem que já vi.

Problemas técnicos e de arte

A atuação dos atores ficou prejudicada por um roteiro fraco e uma aparente inexistência de direção. O filme é de Gerson Sanginitto (Cadáveres 2, 2008) diretor que, até então, me era desconhecido, não conheço seus trabalhos anteriores, mas se este servir de referência, poderia melhorar.

E por fim, algum uso de CGI coerente e bem conduzido. Em contrapartida, há uma cena que não diz nada, não enriquece a narrativa, apenas notei uma necessidade de se fazer algo grandioso para mostrar domínio desta tecnologia, mas achei que a tomada me lembrou muito ao remake de O Dia em que a Terra Parou (2008).

Salas vazias, dois meses em cartaz? Faz sentido?!

O diretor Sérgio Sanginitto
Gostaria muito de que um filme brasileiro com essa temática tivesse recebido um tratamento de roteiro melhor, com mais ritmo e consistência. Co-escrever junto a algum escritor brasileiro com mais know-how no assunto teria sido uma possível saída. Temos pessoal bom para isso, é só procurar.

Acho que devemos, de qualquer forma, assistir a mais esta produção nacional. Precisamos, não podemos nos furtar em comentar nossas impressões. É preciso que percebam que o público brasileiro consome, mas quer qualidade. Não somos Bollywood, e produzimos pouquíssimos filmes por ano, por isso temos que ter excelência.

OVNI's e Quixadá, uma mistura explosiva
De um modo ou de outro, o espectador não sai o mesmo, ao término do filme. Nos deixa pensativo, nos faz questionar. Isso, em si, já é algo. Tem muito, mas muita obra por aí que rende muito, e não tem um micron de conteúdo.

Se os exploradores quiserem minha recomendação: Assistam. É interessante, abre o diálogo, desperta a curiosidade e nos faz querer saber mais, ir além do final.

Área Q: 2011, Brasil
Direção: Sérgio Sanginitto
História: Sérgio Sanginitto, Carla Sanginitto e Halder Gomes
Roteiro: Sérgio Sanginitto e Júlia Câmara
Música: Perry La Marca
Edição: Helgi Thor
Elenco: Isaiah Washington, Ronnie Gene Blevins, Murilo Rosa, Ricardo Conti e Tânia Khalil

Nossa avaliação:
Delta-Shield Bronze

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