CRÍTICA DE CINEMA: Splice - A Nova Espécie
por Fargon Jinn
Splice significa a atividade de unir fios, atar cabos, fundir correntes. No nosso caso falamos de fusão de cadeias de ADN (ácido desoxirribonucleico), ou o hoje famoso DNA, que é um anglicismo.
Mais uma vez Vincenzo Natali (O Cubo, 1997 – diretor e roteirista) dá uma tacada de mestre do scifi (gosto mesmo dos filmes deste cara). E neste, ele busca, dentro de uma visão científica concreta, mostrar-nos alguns dos muitos perigos da manipulação genética.
O desenvolvimento de novas espécies não é uma ficção, é uma realidade há algumas décadas. A ciência vem trabalhando com híbridos de plantas, bactérias e até mesmo alguns pequenos animais. Mas híbridos podem ser considerados como novas espécies? Sim, podem. Se mulas e burros fossem férteis, e pudessem cruzar entre eles, teríamos o surgimento de uma nova espécie.
Melancias, abacaxis e milho são |
espécies desenvolvidas pelo homem |
O alerta de Splice está no exemplo mostrado quando as duas únicas criaturas de um experimento apresentam um comportamento inesperado, logo no início do filme. Isto demonstra que para se gerar novas espécies em laboratório, devemos ser capazes de garantir segurança perfeita. Mas hoje em dia, quem quiser investir em padrões de segurança para suas experiências está, no geral, mais preocupado em proteger, de espionagem, suas pesquisas do que com os riscos de contaminação do meio ambiente.
Outro alerta está na questão da geração de híbridos com ADN humano. Não existem leis contra tal prática. Por isso podemos estar prestes a ver uma geração X surgir de uma hora para outra. Algo como animais com inteligência aumentada por miscigenação com o nosso ADN. Se algo assim acabar solto na natureza é impredizível quais consequências advirão.
Houveram alguns exageros que diminuem a classificação de scifi hard, mas nada que desabone o filme. Sempre precisamos ter algum impacto, e o exagero é uma saída relativamente fácil.
O desenvolvimento da trama é lenta e algumas vezes se arrasta, mas é inevitável, este é um filme feito para que o espectador pondere, analise, e vá junto com o roteiro decidindo se aquilo que está sendo mostrado é ético ou não. É um filme para se assistir e discutir com os amigos e familiares. Queremos ver o sucesso das experiências levadas a cabo pelos protagonistas, mas ao mesmo tempo temos que decidir até onde “o fazer por que podemos” é aceitável.
A ciência cresce com os riscos, mas muitos deles não devem ser levados às suas últimas consequências. O processo de desenvolvimento científico na nossa realidade atual, transformou-se numa disputa de velocidade. Estamos muito preocupados em lançar algo antes dos concorrentes.
Afinal, a Apple estabeleceu-se como um exemplo disso. Os demais estão correndo atrás do atraso. Nesta disputa não se parou para avaliar o impacto destas rápidas mudanças tecnológicas no dia-a-dia das pessoas, nos mercados financeiros, nos parques industriais, nos mecanismos de empregos e geração de renda, ou sequer nos técnicos e cientistas que trabalham no desenvolvimento destas conquistas do design e da física.
Voltando ao filme, temos o trabalho sempre impecável do 'oscarizado' Adrien Brody (O Pianista, 2002 – A Vila, 2004), mas neste faltou o seu 'brilho' especial (foi meio frustrante). A menos conhecida Sarah Polley teve uma presença mais marcante.
A direção de Vincenzo Natali não surpreende, é um diretor que se atém mais à história do que aos quesitos técnicos. Mas pode-se notar sua evolução. Este filme, com certeza, mostra a melhor fotografia e edição de seus trabalhos. Os efeitos são impecáveis. E para um orçamento de US$30 milhões, faz 'A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1' que custou US$110 milhões, juntamente com seus ridículos lobos em CGI ficar ainda mais ridículo.
O filme não é um 'pipocão', e portanto não é para diversão pura. É para análise, fomentar discussões, buscar entendimento de algo que aparentemente é fantasia para a maioria da população, mas que algum dia teremos que parar e fazer nosso debate. Quem for alugar este filme, não deve esperar um thriller, é uma ficção-científica hard, meio chatinha, com uma ponta de terror. Mas extremamente bem produzida e conduzida. Vale à pena.
Splice - A Nova Espécie (Splice): 2009, (França, Canadá)
Direção: Vincenzo Natali
História: Vincezo Natali e Antoinette Terry Bryant
Roteiro: Vincenzo Natali, Antoinette Terry Bryant e Doug Taylor
Elenco: Adrien Brody, Sarah Polley, Delphine Chanéac
Direção: Vincenzo Natali
História: Vincezo Natali e Antoinette Terry Bryant
Roteiro: Vincenzo Natali, Antoinette Terry Bryant e Doug Taylor
Elenco: Adrien Brody, Sarah Polley, Delphine Chanéac
Nossa avaliação:
Delta-Shield Prata |
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