RESENHA DE CINEMA
Frigth Nigth e The Thing
por Helder Maia
Acho absurda esta atual enxurrada de refilmagens no cinema americano. Isto não quer dizer, no entanto, que o problema seja refazer algo. Se olharmos para o passado, quando o número de refilmagens não era tão grande, temos exemplos de bons filmes inspirados em outras obras, como Cabo do Medo (1991), que foi inspirado em O Círculo do Medo (1961), e O Enigma de Outro Mundo, realizado por John Carpenter em 1982, e que é uma reimaginação de O Monstro do Ártico (1951).
Então, a princípio, o problema não é refilmar algo do passado, atualizando-o para as plateias de hoje, mas sim fazê-lo com qualidade. E é justamente aí que Hollywood tem falhado. Refilmagens ruins e chatas vêm se acumulando nestes últimos anos.
Falarei aqui de duas das mais recentes.
A Hora do Espanto
Vivi boa parte de minha adolescência nos anos 80 dentro de salas de cinema assistindo a clássicos como O Exterminador do Futuro (1984) e Robocop - O Policial do Futuro (1987). A Hora do Espanto é simplesmente um filme que amo de coração. Então, fiquei muito apreensivo ao ouvir a notícia de que ele seria refilmado. Afinal, como alguém poderia melhorar algo que já era perfeito? E ainda mais, com a sucessão de péssimas refilmagens dos últimos tempos, o prognóstico parecia indicar mais um desastre se aproximando.
Collin Farrel como Jerry Danridge |
Mas o fato é que o filme me surpreendeu. O seu mérito é o de não apenas pegar o conceito original e formatá-lo num pacote visual contemporâneo, já que o público geralmente é preconceituoso e não gosta de assistir filmes com visual datado (figurinos e carros). Não, o filme tem uma “pegada” própria. Se o original era um misto de Terror e Comédia (o gênero Terrir, muito difundido nos anos 80), aqui o filme é totalmente de Terror.
Fera acuada |
Outra coisa, o vampiro do primeiro filme era um cara bonito e charmoso, com um comportamento bem normal até mostrar suas presas. O Jerry Danridge do novo filme, interpretado por Colin Farrell, age mais como um animal, ficando inquieto quando confrontado. Outra mudança foi no personagem de Peter Vincent (outrora interpretado pelo saudoso Roddy McDowall), que passou de um ator de filmes de terror para um mágico. Ao saber desta mudança pela net fiquei indignado na época, mas o personagem cumpre seu papel de alívio cômico, e afinal, se pensarmos bem, se for para refilmar um filme frame-a-frame do original (O Gus Van Sant fez isso com seu Psicose de 1998 e saiu aquela bomba), ao invés de reimaginar, de que adianta o esforço?
Peter Vincent modernizado pegou muito bem |
Gostei também do fato do “mocinho” não enfrentar o vampiro totalmente despreparado, o que é comum de acontecer nos filmes. Se pensarmos bem, é meio absurdo o sujeito ir enfrentar uma criatura toda-poderosa vestido apenas com roupas comuns.
Charley Brewster |
No geral um bom filme, que não faz vergonha ao original, segundo seu próprio caminho.
Nossa avaliação:
Delta-Shield Prata |
O Enigma de Outro Mundo (A Coisa)
Aqui se trata mais de um prelúdio do que propriamente de uma refilmagem, embora o filme tenha muitos elementos de semelhança com o original.
Após cientistas noruegueses descobrirem uma nave alienígena enterrada sob o gelo na Antártida, convocam a paleontologista Kate Lloyd (Mary Elizabeth Winstead), para ajudar. Lá, ela ajuda a desenterrar do gelo um ser alienígena aparentemente morto, mas que passa a ameaçar todos na base de ciências, enquanto uma tempestade os deixa isolados do resto do mundo.
Mary Elizabeth Winstead como a cientasta americana |
O interessante aqui é que o filme busca também um caminho próprio: se o primeiro era um filme de paranóia sobre um grupo de cientistas, isolados em uma estação científica na Antártida, e submetidos a uma criatura que pode assumir a forma de quem desejar, neste prelúdio a proposta é trazer mais adrenalina e terror para a trama, com o monstro atacando os cientistas. Embora isso não seja muito coerente, afinal bastaria que a criatura se camuflasse como um dos membros da estação para escapar para a civilização na primeira oportunidade.
Atuação fraca e desinteressante |
Outro problema: é a forçada entrada de personagens americanos no filme, uma decisão mercadológica dos produtores, já que o público americano dificilmente iria assistir a um filme protagonizado por noruegueses e falado em seu idioma, como o filme logicamente deveria ter sido feito. Afinal, os noruegueses não poderiam chamar um paleontologista de seu próprio país?
Outro ponto baixo é que Mary Elizabeth Winstead simplesmente não convence como heroína de ação, apesar de ser um rosto agradável de se olhar, ela é muito inexpressiva. O final, embora forçado, faz uma louvável conexão com o filme de 82: ele termina onde o outro começa, com o helicóptero perseguindo o cachorro na neve.
Devido à baixa bilheteria do filme nos EUA, ele acabou não sendo lançado nos cinemas no Brasil. E que, pelo que apurei, ainda sequer saiu em DVD ou Bluray. Outro detalhe curioso é que resolveram chamar o filme de A Coisa, em uma atitude incoerente, afinal se trata de um remake de um filme conhecido.
Ao final, um filme mediano que agrada se o expectador não parar para pensar demais na trama.
Nossa avaliação:
Delta-Shield Bronze |