LITERATURA E CIÊNCIA
por Fargon Jinn
Arthur C. Clarke (1917-2008) |
Caros exploradores, como um verdadeiro fanático por ficção científica hard, tenho Arthur C. Clarke como o ícone máximo da literatura no gênero. Este autor deve ter tido um terceiro olho, capaz de captar imagens do futuro. É impressionante como as coisas sobre as quais ele escreveu são absolutamente verossímeis.
Já ouvi que Clarke não era um grande escritor, no sentido dramático. Mas que tinha um entendimento gigantesco de ciência. E por isso suas histórias são tão impressionantes.
Discordo com veemência. Um grande conhecimento dificilmente transforma uma pessoa num criador de histórias envolventes e chocantes. E isso o nosso autor fazia com uma maestria insuperável. Cada livro seu é um primor dramático. O leitor não desgruda do livro até a sua conclusão, vivenciando e sofrendo com o desenrolar da narrativa. Portanto, ele foi, sim, um grande escritor e um grande visionário.
Alega-se, e nisto eu concordo, que suas personagens, geralmente, têm pouca profundidade. Mas é preciso ver que as personagens estão ali como parte da paisagem. Eles nos contam as histórias, mas não têm a obrigação de se desenvolverem, o enfoque é outro: a ciência. A ciência sempre foi a grande personagem de Arthur Clarke.
Edição do Círculo do Livro |
Neste artigo eu quero tratar do assunto relativo ao livro “As Fontes do Paraíso” (1979). Para quem não leu ainda, a sinopse é simples:
“Narrativa da vida de um engenheiro que resolve construir um elevador orbital.” Mais do que isso... leiam ao livro!
“Narrativa da vida de um engenheiro que resolve construir um elevador orbital.” Mais do que isso... leiam ao livro!
E o que significa esse elevador orbital? Primeiramente temos que entender o quão importante é para a humanidade poder ir e voltar, estar e utilizar a região orbital do nosso planeta. Os nossos sistemas de monitoramento do clima (previsão de cataclismos, proteção de lavouras contra pragas, estudos sobre poluição, etc); comunicação global (telefonia, televisão, transmissão de dados monetários e informações cibernéticas, etc); global positioning system – GPS (monitoramento de transportes aéreos e marítimos, mapeamento, transito, etc); sistemas militares de operação, espionagem e orientação de armamento; pesquisas científicas (astronomia, geologia, oceanografia, migração animal, etc); isso tudo é só uma pontinha do iceberg que abrange a utilização dos sistemas orbitais alto e baixo. A lista se estende ad infinitum.
Ultimo Vôo da Atlantis - US$500 Milhões |
O grande empecilho ainda é o custo. Atualmente gasta-se algo em torno de cem a quinhentos milhões de dólares por cada lançamento orbital. Foi o que inviabilizou o programa do Space Shuttle. O congresso americano chegou à conclusão de que teriam que suspender as verbas ou enfrentar uma verdadeira recessão econômica. O programa da NASA que deveria ser mais econômico, superava suas previsões de custos a cada missão. Doeu, mas não tinham de onde tirar mais recursos, sem onerar agressivamente a inimaginável dívida interna estadunidense.
Elevador Orbital |
Aí é que a proposta, absolutamente original, de Clarke entra. Com um elevador orbital, o valor do quilograma de carga útil cairia dos atuais vinte a sessenta mil dólares para meros quarenta dólares. Ou seja, para se mandar um homem ao espaço gasta-se algo como quatro milhões de dólares; passaria para perto de cinco mil, uma passagem de avião internacional.
Ancoragem na superfície do planeta |
Mas como funcionaria um equipamento desses (recomendo fortemente que leiam o livro)? É simples: imagine um tubo de elevadores, um sobe enquanto o outro desce. Sistemas MagLev (levitação magnética) e motores à jato ou elétricos. Este tubo estaria ancorado na Terra numa área próxima ao equador, longe de furações e terremotos, e a outra ponta estaria fixada num satélite. Como construir algo assim? Leiam o livro. 'Tá tudinho lá, muito bem descrito. É absolutamente razoável e verossímil. Principalmente que hoje em dia temos algo muito parecido com o material que Clarke predisse: os filamentos de fibra de carbono.
Bom, aliado a este assunto temos aqui um interessante desdobramento da ciência: a empresa StarTram, fez uma declaração de que reúne as condições para criar algo parecido.
"É neste momento que deveríamos ouvir um tchan tchan tchan tchan tchaaannnn!"
"É neste momento que deveríamos ouvir um tchan tchan tchan tchan tchaaannnn!"
Eles propõem um tubo em vácuo, com cento e trinta quilômetros de extensão, perfurado numa montanha, propulsionado com um sistema MagLev. O sistema expulsaria foguetes conteiners com trinta e cinco toneladas de carga útil, à velocidade de trinta e seis mil quilômetros por hora, e utilizaria a parte superior da atmosfera para a frenagem, até a velocidade de inserção orbital, onde os ajustes finais se dariam por foguetes de manobra.
Não seria para uso humano, já que a aceleração necessária destruiria os tecidos corporais. Mas para as carga, isso já seria algo absurdamente vantajoso.
O preço? Uma bagatela... vinte bilhões de dólares distribuídos em dez anos.
Se pensarmos que a primeira década da exploração espacial gastou comparativamente o dobro disso, só nos Estados Unidos, temos que concordar que é um bom preço.
Infelizmente, a conjuntura econômica mundial não está favorável a um investimento dessa monta. Uma pena! Mas isso não é assunto encerrado. O interesse é global. Esta é a primeira ideia realizável, poderão surgir outras à partir desta, que se aproximem mais e mais de uma realização econômica viável. E poderemos ter consórcios internacionais compelindo este desenvolvimento, sem a influência de governos e seus interesses territoriais.
Mas, e se quisermos enviar humanos com uma tecnologia semelhante, poderíamos? Como seria? A StarTram projeta que seria necessário um tubo magneticamente sustentado, cuja saída estaria elevando-se a vinte e três quilômetros do nível do mar, utilizando-se correntes elétricas de quatorze milhões de ampéres, com um comprimento de mil e oitocentos quilômetros.
Bom, para esse daí, a nossa tecnologia ainda não é suficiente. Muito menos os recursos que ficariam na ordem de sessenta e sete bilhões de dólares em vinte e cinco anos.
Então, exploradores, alguém tem alguma sugestão para um sistema barato de viagens espaciais? Candidatem-se! Existem prêmios internacionais para os projetos que se provarem viáveis. O X-Prize ainda tem várias outras categorias que não foram realizadas, até o presente. Comentem e façamos um brainstorm sobre estas possibilidades.
As Fontes do Paraíso (The Fountains of Paradise): 1979, Grã-Bretanha
Autor: Arthur C. Clarke
Tradução: Donaldson M. Garschagem
Editora: Nova Fronteira
Lançamento: Reed Business Information, Inc
Autor: Arthur C. Clarke
Tradução: Donaldson M. Garschagem
Editora: Nova Fronteira
Lançamento: Reed Business Information, Inc
Espetacular, essa matéria, Fontes... e que tal fazer uma em homenagem as mulheres de Star Trek? Já que ontem foi comemorado o dia internacional da mulher! Ass.: Rodrigo.
ResponderExcluirGraaande Rodrigo, aqui era para ser sugestão de idéias para um lançador orbital, não de uma matéria.
Excluir¬¬
kkkkk...
Ok! Fizemos nossa homenagem, no confunda com o menágè < ;) >, no chamado para o The Fantastic Zone. Mas para o ano que vem, podemos utilizar a sua idéia, que é muito boa por sinal.
Grato pelo comentário,
Abraços,
Fargon Jinn