SÉRIE: GRANDES SAGAS
por Fabok
Star Wars sempre tem um público um pouco maior |
Estávamos saindo de nossa participação na Comic Con do SANA Fest 2012 e estávamos impressionados que o nosso painel sobre Star Wars atraiu muito mais o interesse do público do que o de Star Trek. Alguns dias mais tarde, fui ao cinema assistir à estreia de Star Wars - Episódio I em 3D, e me surpreendi com a quantidade de crianças, havia até uma garotinha de no máximo seis anos toda orgulhosa com um sabre de luz na cintura, vibrando com um filme, que é de longe considerado o mais fraco da série.
Star Wars tem um certo charme, mas não sei bem onde... |
Dias depois, ao contar esta experiência ao pessoal do Relatório da Situação, nosso amigo Helder Maia fez um comentário muito interessante, que me fez refletir bastante, e tomei a liberdade de citar aqui:
“Star Wars encanta, Star Trek é reflexão!”
Pensando bem, isso até que faz sentido!!! ¬¬ ? |
Aquilo me 'deixou com a pulga atrás da orelha' e, por mais que tentasse, não conseguia concordar inteiramente com o Helder. A Série Clássica e até mesmo a Nova Geração definitivamente sempre deixavam no ar alguma reflexão, algumas muito bem trabalhadas, outras nem tanto. Mas as séries subsequentes de Jornada abandonaram quase que completamente esta característica. Se nós pensarmos nos filmes para o cinema, pelo menos com os filmes da tripulação original, havia uma preocupação de se deixar uma mensagem. O valor da amizade, tolerância, moral, ética, preocupação com ecologia ou a nossa situação política vivida naquele momento, refletindo-se nos roteiros, são elementos que sempre estiveram presentes. Por outro lado, isto foi sendo deixado de lado nos filmes da Nova Geração e, a meu ver, ignorado completamente em Star Trek (2009).
"Doca-seca" de Jornada nas Estrelas: O Filme (1979) |
Então explorador, pelo menos até agora, vocês devem estar concordando com o Helder, mas é aí que a coisa complica. Se excluirmos Jornada nas Estrelas - O Filme (1979), as aventuras mais rentáveis de Jornada foram First Contact (1996) e Star Trek (2009), que tiveram muita ação, grandes efeitos visuais, e quase nada de reflexão; e o primeiro filme (1979) foi considerado um show de efeitos visuais em sua época. Resolvemos a charada, o segredo do sucesso é a ação e os efeitos visuais. Certo?
Acho que seria certo, para quase tudo em cinema, mas para estas franquias está errado... Claro que os efeitos e a ação são um importante chamariz, mas o que encanta, principalmente, em Star Wars é a saga do herói, não somente de Anakin ou Luke Skywalker. A saga apresenta uma galeria de incontáveis personagens heroicos: Padmé, Han Solo, Lea, Yoda e até mesmo os droids R2D2 e C3PO, e cada um deles tem seu momento de sacrifício em prol de alguém ou de uma causa. Aí está um elemento de força na saga de George Lucas. Até mesmo o maior vilão de todos os tempos, Vader, tem seu momento de redenção ao deixar o Lado Negro e se sacrifica para salvar seu filho. Não tenha dúvida, mesmo o público mais jovem é capaz de identificar-se com isto. E, se o público jovem fica "encantado", jamais esquece. Sucessos baseados somente em efeitos visuais ou ação são efêmeros e, no final, esquecidos pelo público.
O filme de Jornada que melhor trabalhou o valor do herói foi ‘A Ira de Khan’ (1982). Não é à toa que esta é a aventura mais querida dos fãs. Mas, o que compensava a falta de um herói, nos filmes com o elenco original, era a incrível química e cumplicidade entre os atores, refletindo isso em seus papéis. Por isso Kirk e companhia funcionavam tão bem. Já com a Nova Geração, a primeira coisa que fizeram, no cinema, foi transformar Picard num "herói de ação"...!!
Calma, explorador, me deixa terminar... "Tentaram" criar um herói, mas que ficou sem uma saga, sem sacrifício e, no final, sem graça. De que adianta mandar a Enterprise se chocar contra a nave do vilão, se isto não traz nenhuma empatia com audiência, a não ser uma sequência de ótimos efeitos visuais? Pior ainda, o excelente elenco da Nova Geração foi extremamente mal utilizado nos filmes, as espinhas do Worf e os comentários bobos de Data em Insurrection (1998) estão aí para provar o que estou dizendo. Os filmes da Nova Geração foram ficando cada vez piores com o tempo, o que causou o fim das aventuras da Enterprise de Picard no cinema, mesmo com boas cenas de ação e efeitos visuais.
A 'divinal' obra de J.J. Abrams |
E assim chegamos a Star Trek 2009. A idéia do reboot foi uma saída interessante para se escapar das armadilhas do canon, mas a decisão de transformar o filme num festival de pirotecnia em detrimento da estória, é motivo, sim, de preocupação. J.J Abrams e sua turma tem um elenco promissor nas mãos, mas eles precisam trabalhar melhor os personagens. Jornada, para sobreviver, precisa de heróis, no verdadeiro sentido da palavra, e não somente Kirk, Spock e McCoy. Uhura, Sulu, Chekov, Scotty. Estes personagens estão prontos, e com certeza seus interpretes também, para partir em direção a novos caminhos para a série. Deixem a nova tripulação da Enterprise sair em busca de sua própria saga! É este ponto, pelo menos para mim, que Star Trek deveria emular Star Wars.
Sei que muitos discordam de mim. Mas, e você explorador, qual é a sua visão desta temática? Expresse sua opinião. Diga-nos por que Jornada não encanta. É uma discussão interessante...
Participação de Fargon Jinn
Bom, como editor deste fanzine, e fã de ambas as sagas, me sinto compelido a expressar a minha opinião sobre este tema, que me é muito instigante.
Enfim uma série de respeito |
Star Trek, minha paixão de infância, é uma série que me cativou profundamente, por que nos trazia um posicionamento sério, e acessível o suficiente para uma criança de 8 anos entender. E eu entendia sim. Claro que muitos dos layers de Star Trek eram invisíveis, na época, mas eu tinha pelo menos um insight por episódio. No lado oposto eu tinha Perdidos no Espaço (1965-1968), que não era nada mais do que “o monstro da semana”. E eu, aos 6 anos, me cagava de medo do monstro, ou morria de rir do Robô, ou de raiva da vilania do Dr. Smith. Achava que no ano 2000 todos vestiriam roupas prateadas e usariam pistolas laser no coldre.
Jornada era uma proposta séria, e me fazia viajar. Eu gostaria de poder ter uma nave e sair ao bel prazer pelo espaço à fora, e solucionar elegantemente todos os desafios propostos como Kirk e Spock sempre faziam.
Resposta do público durante todo o ano de '77 em Hollywood |
Quando vi Star Wars, em 1977, meu cérebro fundiu. A space opera entrou em minha vida de uma forma violenta. E foi, além das naves, robôs e cenas de combate, principalmente pelo poder da Força. Uau! Nessa época, o misticismo, para mim, era algo que tinha um apelo muito poderoso. E aquele poder etéreo batia em muito com o que eu acreditava do que deveria ser “a verdade sobre a vida, o universo e tudo o mais”. A história em si, eu sempre achei muito cheia de furos, pequenos e grandes, muitas pontas soltas. Por isso, o 'ambiente' em si, o grande cenário, a saga propriamente dita, foi o grande anzol que me fisgou.
E se, mesmo após esta lógica explanação, alguém discordar... |
Sempre existem formas mais eficazes de convencimento! |
Este é para mim o grande diferencial entre estas grandes séries. Para mim, Star Trek encanta tanto quanto Star Wars. Mas concordo plenamente que o universo de Lucas tem muito mais elementos que apelam emocionalmente. E mesmo que a mística da Força tenha sido destruída (Obrigado titio Lucas!), existem um sem-número de elementos que ainda exercem uma atração maravilhosa. E, com certeza, "Assim Falou Fabok", a jornada do herói, de cada um dos grandes personagens de Star Wars, é um dos elementos mais fortes destes apelos.
Participação de Helder Maia
Peraí, se todo mundo está dando sua opinião, eu vou dar a minha também. Hehehe...
Nunca conseguiu entrar na minha cabeça como Guerra nas Estrelas consegue ser mais popular que Jornada nas Estrelas (sim, eu não chamo de Star Wars, pois cresci com o título em português. Caramba, até me lembro de uma promoção do achocolatado Nescau nos anos 80: você comprava uma lata e “ganhava” uma máscara do Darth Vader! Claro que eu comprei e ficava brincando com a tal máscara). Afinal, como seis filmes para o cinema de Guerra podem competir com onze de Jornada, mais setecentos e vinte e seis episódios de todas as suas séries juntas? Claro que Guerra tem seu “universo expandido” nos livros, jogos e nas séries de animação, mas tirando estas últimas, os dois primeiros formatos não são tão difundidos aqui no Brasil.
Mas, ei, qual era o tema mesmo...? Ah, sim... Guerra x Jornada. Bem, eu não diria que os filmes da Nova Geração sejam apenas aventuras de ação, como ponderou o meu amigo Fabok. Apesar de sofrível, Generations trata da questão da mortalidade e de como ela nos define. Primeiro Contato coloca em meio à ação o drama particular de Picard, que tendo sido sequestrado e sofrido “lavagem cerebral” na mão dos borgs, fica obcecado por destruí-los, mesmo esquecendo seus princípios, em sua sede de vingança. Insurreição, como todos os seus defeitos, trata da busca da criança dentro de todos nós e do mito da “fonte da juventude”. Mesmo o fraquíssimo Nêmesis (2002) trata da questão do desenvolvimento humano sob a ótica da carga genética versus o ambiente e experiências vividas: qual delas tem maior poder sobre a formação do indivíduo? Será que Picard teria se tornado como seu clone, Chinzon, se tivesse passado pelas mesmas experiências de humilhação e violência como escravo nas minas remanas?
Apesar de Guerra nas Estrelas ser um espetáculo visual e trazer, claro, personagens cativantes como Han Solo, Luke e a Princesa Léia, eu não vejo uma temática maior sendo tratada nos filmes da saga de Lucas. Não é que eu não goste deles, mas prefiro Jornada por ser mais cerebral, sem abrir mão da ação ou entretenimento. Se não fosse assim não estaria cogitando conferir os seis filmes de Guerra recentemente lançados em Bluray.
Mas, mais importante do que os fãs ficarem se digladiando sobre qual das franquias é a melhor, naquele ‘besteirol’ de tentar convencer o outro de sua opinião, é que se consiga ver em cada uma delas seus valores, sem perder o senso critico para seus defeitos. Porque uma não poderia complementar a outra, afinal?
- No próximo falaremos da guerra final Star Wars e Star Trek versus Crepúsculo! |
- Nãaaaooooo! Não é possíiiivel! |
- It's a trap! |
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