Pintura de LaGrange |
Joseph-Louis de LaGrange, apesar do nome, foi um matemático italiano, do século XVIII. Mas o que tem ele de especial?! Simplesmente, um gênio. Aos 16 anos era mestre da Escola Real de Artilharia em Turin, e aos 19 desenvolveu a mecânica analítica de quatro dimensões. Aos 28 anos recebeu o Grande Prêmio da Academia Francesa de Ciências, por ter solucionado um problema que atormentava a todos desde Newton. O então conhecido "Problema dos Três Corpos".
Se você observar duas massas no espaço, como Vênus e o Sol, por exemplo, e considerar suas gravidades, com certeza deverá imaginar que em algum ponto entre estes dois corpos, as forças gravitacionais são equivalentes e anulam-se. Ou seja, o planeta ainda exerce sua atração gravitacional, mas quanto maior a distância que o observador está do centro de massa do planeta, menor a influência gravitacional que ele sofrerá, embora sempre haverá uma força atuando sobre o observador.
Quando estamos no espaço, temos a sensação de gravidade zero. Mas isso é um erro. De fato, seu corpo está a uma velocidade absurda de dezoito a vinte e dois mil quilômetros por hora, tentando ir em linha reta, enquanto a gravidade do planeta lhe desvia do caminho fazendo-o cair. A estas velocidades, você consegue anular a aceleração da gravidade, como a água que não cai de um balde em movimento giratório.
Os 5 pontos de LaGrange |
Voltando a Vênus e o Sol, com o observador parado entre os dois, ou seja, sem o deslocamento orbital, sente-se a gravidade (mais fraca quanto maior for a distância), mas nunca será nula. A influência gravitacional se espalha indefinidamente. No entanto, em algum momento a força gravitacional de Vênus será tão pequena que acaba suplantada pela do Sol, ainda muito longe, mas muito mais forte. Existe ali, em algum ponto, um local em que as duas gravidades são idênticas. O que causa um equilíbrio, que pode ser estável ou instável, o que não vem ao caso no momento. Mas, aparentemente, neste ponto de equilíbrio, temos gravidade zero. O observador pode ficar neste local indefinidamente, sem nunca se deslocar em direção a qualquer um dos corpos.
E, num caso como o Sol, a Terra e a Lua, existiria algum ponto de equilíbrio neste sistema? Foi aí que LaGrange entrou. Ele encontrou não um ponto, mas cinco. Eles ficaram conhecidos em astronomia e astrofísica como os pontos de LaGrange ou L1 a L5.
Esfera de Bernal (Island 1 e 2) |
O que isso significa para nós?
Significa que, se resolvermos construir estações espaciais para criarmos comunidades espaciais, estes pontos seriam de grande interesse.
De fato, um deles já está na mira de um grande empreendimento imobiliário. A entidade é conhecida como Sociedade L5 (L5 Society ou apenas L5). Fundada em 1975 por Carolyn e Keith Henson, que basearam-se nos trabalhos do físico norte-americano Gerard K. O'Neill.
O'Neill desenvolveu uma proposta para uma estação espacial composta por dois cilindros de oito quilômetros de diâmetro, por trinta e dois de comprimento. Rotacionando em direções opostas. Batizando o projeto como Island 3, para dar continuidade em relação aos seus projetos anteriores Island 1 e 2, estações espaciais baseadas nas propostas, que são conhecidas como 'Esfera de Bernal', ambas com mil e seiscentos metros de diâmetro.
Cilindros de O'Neill |
Os Cilindros de O'Neill, seriam uma solução para o desenvolvimento de tecnologias industriais que se beneficiam da microgravidade. Além disso, como os movimentos rotacionais gerariam gravidade artificial entre 0,9 e 1G (semelhantes à gravidade da Terra), o ser humano não sofreria os problemas orgânicos causados pela baixa gravidade, como seria se o homem estabelecesse comunidades na Lua ou em Marte. Teríamos energia solar em abundância, não haveria necessidade de combustíveis, não haveria poluição, tudo seria reciclado não ocasionando problemas de lixo ou destruição do meio-ambiente. Aos poucos a humanidade absorveria os mesmos princípios para uso no planeta, e até haveria possibilidade de abandonarmos definitivamente a Terra, onde não estaríamos tão sujeitos aos cataclismos naturais.
Espaçonave Argo |
Com base nisso, um grupo de artistas e cientistas criou um projeto para uma webserie de ficção científica hard. L5 é a história de uma equipe de astronautas que retornam à Terra após duzentos anos de uma viagem espacial em hibernação, somente para encontrar um planeta vazio. No ponto 5 de LaGrange, eles encontram este gigantesco Cilindro de O'Neill, e ao que parece, também vazio.
O projeto vem se desenvolvendo há dois anos, e os profissionais são todos fanáticos por ficção científica classificada como hard, ou seja, aquela na qual as leis da física são interpretadas com realismo, não existe fantasia científica. A matemática, a física e a biologia atuais são respeitadas ao extremo. Quer dizer, nave espacial ao ser vista no espaço, viaja em silêncio, ou ao som de músicas, não de efeitos sonoros de aeronaves ou motores de foquetes. Eles se baseiam em autores como Arthur C. Clarke, Isaac Asimov, Alan Dean Foster e Ray Bradbury, e mais um monte de cientistas da NASA, MIT e CalTech, que atuam como consultores.
Curiosamente, o projeto conta com financiamento popular, através de doações, veiculadas pelo site kickstarter, onde foram realizadas duas fases de doação, a primeira com meta de US$10.000, e angariaram $10.400, e outra com meta de $2.500, onde atingiram $3.700. Eles estão atrasados, contudo. As previsões iniciais seriam de estrear na primavera deste ano, mas já está acabando o verão americano e eles ainda não estão prontos.
Com certeza o argumento é excelente, o projeto é viável, e deverá, se for tudo concluído a contento, ser um 'megasucesso'. Daí virão propostas de Hollywood e muitas outras oportunidades. Vamos aguardar.
Muito interessante. Sempre gostei de ficção científica realista e não conhecia o termo "hard science fiction". Acabei de dar uma olhada no site do L5 e parece que agora estão trabalhando na trilha sonora e tentando levantar fundos: http://www.indiegogo.com/A-Score-for-L5
ResponderExcluirEspero que consigam, gostei muito do conceito.
Pois é Andrei, os caras estão trabalhando sério, deram uma atrasada nos cronogramas, mas continuam em frente, e olha que os orçamentos deles são muito baixos. É incrível como eles conseguem tanto com quase nada. Vamos aguardar para ver e prestigiar o trabalho quando for publicado.
ResponderExcluirGrato pela atenção em comentar.
Fargon Jinn
Parabéns pelo artigo. Está muito bem escrito e contém interessantes informações científicas.
ResponderExcluirWaldemar Fontes