Em setembro de 1974, um físico norte-americano e professor na Universidade de Princeton, Dr. Gerard K. O’Neill, publicou um trabalho que muitos considerariam produto de uma mente doentia, caso tivesse sido outra pessoa. Mas O’Neill tinha já uma bela reputação, e estava longe de ser um cientista louco.
Gerard K. O'Neill |
Quando, ainda, estudante, foi o inventor do ‘Anel de Armazenagem de Partículas’, um equipamento essencial para conduzir experimentos de física de partículas em alta-energia. Isto lhe permitiu, em 1965, na Universidade de Stanford, realizar o primeiro experimento da história de uma colisão de partículas. Estamos falando aqui dos rudimentos de um acelerador cíclico de partículas, que permitiu chegar aos ciclotrons, e o que é hoje conhecido como: o Grande Colisor de Hádron, localizado na fronteira franco-suíça.
Livro de 1976 |
Os locais indicados para serem ‘ancorados’ os Cilindros de O’Neill seriam os pontos de LaGrange L4 e L5.
Cilindros de O'Neill |
Em 1975, Keith Henson e sua ‘então-esposa’ Carolyn Meinel, fundaram a Society L5 que trazia em seu bojo a idéia de angariar fundos para a construção e ocupação do que passou a se chamar de 'Cilindros de O’Neill'. Esta Sociedade prosperou e conquistou espaço entre empresários, economistas, cientistas e políticos. Houveram massivas doações para campanhas e desenvolvimentos de estudos para a operacionalização das propostas publicadas.
O Dr. O’Neill, ainda acrescentaria outra peça a este tabuleiro. Mais um de seus inventos estava para produzir frutos. Em 1977, estudantes do MIT, construíram o protótipo Mass Driver 1 que, em outras palavras, é uma catapulta eletromagnética que lançaria objetos para a órbita do planeta, evitando-se assim o uso de foguetes, que acabam sendo extremamente caros. Em sua proposta original o Mass Driver catapultaria as partes a serem utilizadas para a construção das estações espaciais, a partir de fábricas lunares, para os pontos L4 ou L5.
Este invento possibilitou muitas outras aplicações industriais, mas parece que se tornou pouco interessante para colocação de objetos e naves na órbita da Terra. Hoje em dia existem protótipos de vários inventos, inclusive armas, que são construídos utilizando-se dos princípios do Mass Driver.
A Society L5 atingiu o auge de atuação política quando, em 1980, conseguiu barrar o Tratado Lunar junto ao congresso norte-americano. A proposta era para regular o uso internacional dos corpos e órbitas do Sistema Solar, obviamente excluindo-se a Terra. Acabou, por efeito cascata, sendo rejeitado em todo o mundo, inclusive na ONU, principal patrocinadora da proposta.
Este fato marcou o início do fim da Society L5, mas, também, o nascimento de um novo caminho, cujos objetivos ainda estão por ser delineados ao público, em geral.
Werner Von Braun e sua Estação Anel |
Em 1986, a Society L5, tinha atingido a fabulosa soma de dez mil militantes, em todo o mundo. Membros estes que permeavam os meios mais distintos de nossa sociedade global. Poucos cientistas da NASA e da ESA (European Space Agency) não tinham ainda se alistado. Cientistas como Carl Sagan e Stephen Hawking, escritores como Arthur C. Clarke, Isaac Asimov e J. Michael Straczynski (olha só de onde podemos tirar Babylon 5), empresários como Bill Gates e Steve Jobs, e muitos outros, todos prestavam seus apoios moral e financeiro a esta causa. E, nesta época, resolveram dar um passo à frente e unindo-se aos vinte e cinco mil membros do National Space Institute, fundado por Von Braun, nos anos 50, e formando a National Space Society (NSS). Que existe até os dias de hoje e ostentando os mesmos status, nos meios científicos e acadêmicos de uma das várias Royal Societies da velha e boa Inglaterra.
Hoje a NSS foca seus interesses em desenvolvimentos paralelos para prover a transição da era da informação para a era da sociedade espacial. Os objetos de estudo ainda são um tanto obscuro para a maioria dos mortais, mas vislumbramos, aqui ou ali, referências a ciências conhecidas como mimética (a capacidade da cultura se transferir de mente em mente, como se fosse um processo viral), nanotecnologia (o desenvolvimento de máquinas em dimensões micrométricas), criogenia (a suspensão das funções vitais, por tempo indeterminado, provido por temperaturas extremamente baixas), propulsão tether 'corrente' (o desenvolvimento de elevadores orbitais, cabeamento intra-orbital ou de momentum orbital), transhumanismo (tecnologia para o desenvolvimento da condição humana como longevidade, estrutura física, inteligência e psicologia) e, por fim, inteligência artificial.
Obviamente, a proposta original, embora não seja mais o ponto principal, subsiste. Mestres, alunos e simpósios se desenvolvem mundialmente, gerando estudos de engenharia e arquitetura espacial, com o intuito do desenvolvimento de processos viáveis de construção espacial.
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Num futuro, talvez não tão próximo, mas bem definido, a humanidade irá finalmente deixar seu berço, assumindo o seu lugar no cosmo, não mais presa às estruturas planetárias, às questões territoriais, às economias de subsistência, ao extrativismo, mas criando comunidades autônomas que se deslocarão entre sistemas estelares, cruzando a Galáxia, ou até mesmo se aventurando através dos grandes vazios do universo. Nesta época poderemos ter encontrado o legado de Ponce de Leon, e viveremos longamente e, definitivamente, em paz e prosperidade.
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